Título: Bullying atinge milhares de estudantes no país
Autor: Tinoco, Dandara
Fonte: O Globo, 12/12/2010, O País, p. 15

Crianças e adolescentes relatam violência em escolas. Em pesquisa, 70% dizem já ter visto colega ser maltratado

Tímido e com poucos amigos, X. foi surpreendido pelo convite de colegas da escola para ir ao cinema. No dia do encontro, o menino, de 10 anos, foi levado pela mãe, com quem aguardou os outros garotos. O filme já havia começado quando foram embora, sem que as crianças aparecessem. No dia seguinte, no colégio, foi ridicularizado e entendeu que havia sido vítima de uma espécie de trote.

- Diziam que eu era chato, gago, fanho, gay... Mas sempre achava que as coisas podiam mudar, que ganharia a confiança e a amizade deles - lembra o menino, que hoje tem 16 anos e foi levado para o colégio Notre Dame, no Recreio, Zona Oeste do Rio. - Ir para o colégio era uma espécie de missão, uma luta.

Durante sete anos, X. foi vítima de bullying - violência física ou psicológica praticada entre colegas. Em alguns casos, as agressões ultrapassam os limites da escola, configurando o cyberbullying, que consiste em usar a internet para difamar a vítima.

Em estudo divulgado em abril pela ONG Plan Brasil, 70% dos alunos informam ter visto, ao menos uma vez, um colega ser maltratado no ambiente escolar em 2009. Outros 10% disseram que veem esse tipo de cena todos os dias. Quase 10% relataram ter sofrido maus-tratos três ou mais vezes no mesmo ano, caracterizando o bullying. A incidência de maus-tratos pela internet é de 17%. Já na Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2009, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 25,4% (mais de 15 mil) dos alunos entrevistados disseram ter sido vítimas deste tipo de violência.

- O bullying pode causar doenças de fundo emocional e, em alguns casos, levar à depressão e ao suicídio. Pode também gerar síndrome do pânico, bulimia e uso de drogas - diz a pedagoga Cleo Fante, que participou da pesquisa da ONG Plan.

Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Maranhão já sancionaram leis de combate ao bullying. Na Câmara dos Deputados, tramitam quatro projetos sobre o tema. Eles estabelecem a obrigatoriedade da notificação dos casos e a criação de programas nacionais, coordenados pelo Ministério da Educação, que hoje não tem ações específicas. Um deles, o projeto de lei 6935, inclui o bullying na relação de crimes contra a honra e sugere punição para agressores maiores de 18 anos, com detenção de até um ano.

Para o pediatra Lauro Monteiro, do Observatório da Infância, o combate ao bullying deve ser feito através da prevenção:

- É preciso investir na distribuição de cartilhas e de livros e, principalmente, no treinamento de professores.