Título: EUA usam países vizinhos para analisar o Irã
Autor: Nogueira, Danielle
Fonte: O Globo, 13/12/2010, O Mundo, p. 29

Do Azerbaijão aos Emirados Árabes, rede de observadores busca informações

MADRI. Quando, em 4 de novembro de 1979, um grupo de estudantes revolucionários tomou de assalto a Embaixada dos Estados Unidos em Teerã, os diplomatas se apressaram a destruir documentos. Não houve tempo de queimar as tiras de papel que saíram das trituradoras, e dezenas daqueles jovens exaltados dedicaram os meses seguintes a reconstruir as mensagens secretas, enquanto mantinham sequestrados cerca de 50 americanos. Washington cortou relações com a República Islâmica, e ficou sem seus olhos e seus ouvidos no país. Os dados divulgados agora pelo WikiLeaks revelam como os EUA tentam compensar a falta de contato direto mediante uma rede de observadores nos países vizinhos e um escritório regional em Dubai, nos Emirados Árabes.

¿`O Irã visto desde Baku¿ é a primeira de uma série de mensagens na qual o observador na Embaixada relatará assuntos de interesse sobre o Irã¿, anuncia um telegrama enviado da capital de Azerbaijão em 12 de junho de 2009. No mês seguinte, o observador enviou um extenso documento intitulado ¿Vinte perguntas sobre os protestos iranianos¿, no qual reúne opiniões de aproximadamente 30 iranianos residentes tanto em Baku como no Irã sobre o derrotado candidato reformista Mir Hosein Musaví, a amplitude do mal-estar causado pela derrota e outros assuntos. Depois de um tempo ¿ e após o envio de conversas com caminhoneiros iranianos na fronteira ¿, a Secretaria de Estado até mesmo o felicita por transmitir o sentimento dos ¿iranianos das ruas¿.

A diplomacia americana se revela obcecada na busca por informações que ajudem a decifrar as intenções do regime iraniano. A seção de vistos do Consulado em Dubai, por exemplo, conta com uma equipe de diplomatas que, além de conversar com os iranianos que passam pelo consulado, analisa os meios de comunicação da República Islâmica. Assim, um dia depois da vitória de Mahmoud Ahmadinejad, o cônsul Ramin Asgard informava sobre ¿grandes protestos em Teerã¿ e antecipava que eles ¿vão continuar¿. Mas nada nos documentos secretos aos quais o ¿El País¿ teve acesso revela o mínimo envolvimento dos EUA com os protestos, como reiteradamente denunciou o governo de Teerã.

Os diplomatas do Escritório Regional do Irã são realistas a respeito do alcance de suas atividades.

¿ A maioria das pessoas que vemos em Dubai é relativamente moderada, ocidentalizada e acomodada, o que significa que são anti-Ahmadinejad ¿ reconhece o cônsul. ¿ Muitas delas buscam obter visto para os EUA, o que também pode influenciar o que dizem a um funcionário americano.