Título: Lula se diz magoado com fim da CPMF e defende mais verba para o setor
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 14/12/2010, O País, p. 4

Oposição reage e diz que saúde, mesmo com o imposto, era um caos

BRASÍLIA. O presidente Lula tem aproveitado eventos públicos na reta final de seu governo para expor mágoas. Foi assim ontem novamente, ao receber uma homenagem no Hospital Sarah Kubitschek, onde voltou a reclamar da rejeição da CPMF pelo Congresso em dezembro de 2007. Lula reconheceu que tem mágoa da não aprovação do tributo no Senado e, como tem feito, disse que isso ocorreu por ódio, rancor e maldade da oposição. Embora não tenha falado explicitamente na criação de um novo imposto, ele sugeriu que o governo Dilma Rousseff encontre uma forma para destinar mais recursos para a saúde.

Ao chamar a noite do "fim da CPMF" de "fatídica", Lula fez o desabafo:

- Eu digo isso com uma certa mágoa, porque só existe uma explicação para terem tirado a CPMF do Orçamento da União: ódio, rancor e maldade.

Lula: preços não caíram com o fim da CPMF

Lula calculou que, desde janeiro de 2008 até agora, teriam deixado de cair nos cofres da saúde cerca de R$150 bilhões, dinheiro suficiente, segundo ele, para reconquistar a respeitabilidade da sociedade na saúde pública.

- Se vocês pensarem bem, nesses quatro anos do segundo mandato, nos tiraram mais de R$150 bilhões. O PAC da Saúde previa um investimento direto na saúde de R$24 bilhões a mais. Ou seja, nós tínhamos uma coisa extraordinária que era para recuperar a respeitabilidade da sociedade brasileira na saúde pública brasileira - disse, ressaltando que não viu nenhum produto no supermercado mais barato por causa do fim da CPMF.

Para Lula, o novo ministro da Saúde terá um desafio muito grande, que é encontrar recursos para financiar o setor.

- Entretanto, nós perdemos R$150 bilhões. (...) não existe hipótese de a gente pensar em melhorar a Saúde no Brasil, se a gente não pensar em uma forma de arrecadar mais recursos para a saúde. Independentemente de quem venha a ser ministro da Saúde, ele sabe que tem uma tarefa imensa de organizar deputados e senadores para que a gente possa arrumar recursos para cuidar da saúde com muito mais carinho do que nós cuidamos.

Na solenidade, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), foi elogioso a Lula. Há cerca de 10 dias, no Maranhão, Lula defendeu a oligarquia Sarney e acusou um repórter de ser preconceituoso ao tocar no assunto.

- Lula da Silva fez um dos maiores governos do Brasil contemporâneo. Mudou a face do Brasil, olhou para o povo brasileiro, tirou mais de 30 milhões da miséria, atendeu a todas as classes. É um dos maiores brasileiros de todos os tempos - disse Sarney.

Para o senador Álvaro Dias (PR), provável futuro líder da bancada do PSDB no Senado, mais do que desejar essa arrecadação extra, o presidente tenta justificar o fracasso de sua gestão na área de saúde:

- Isso não convence, até porque ele teve à sua disposição a CPMF, durante seis anos, e a saúde era o caos que continua até hoje. O PSDB é radicalmente contra a volta da CPMF. É uma afronta, um escárnio. O país já arrecada demais, a população paga impostos demais. Não há justificativa para explorar com mais essa cobrança.