Título: Meirelles promete continuar ativo e estressado
Autor: Oswald, Vivian
Fonte: O Globo, 14/12/2010, Economia, p. 25

Presidente do BC diz que deixa o governo com a missão cumprida e planeja livro sobre experiência de 8 anos no cargo

BRASÍLIA. O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, aproveitou o lançamento da nova família de notas do real para despedir-se da administração pública federal e não apenas do cargo de xerife do mercado financeiro. Ele disse que é importante saber a hora certa da mudança e adiantou que escreverá um livro sobre a experiência de comandar o BC nos últimos oito anos. Meirelles já havia conversado com a presidente eleita, Dilma Rousseff, sobre seu desejo de deixar o setor público, embora ainda houvesse a possibilidade de permanecer no novo governo.

- O momento de sair é quando tudo vai bem, e não quando existem problemas. O lançamento da segunda família do real, com seu simbolismo, é o momento oportuno para que eu considere encerrada a minha missão na administração pública federal, e não apenas no Banco Central. Terei quatro meses de quarentena e tempo de pensar. Depois disso, vou continuar ativo e estressado como hoje - afirmou, lembrando que também reassumirá a presidência da Associação Viva o Centro, em São Paulo, ONG que trabalha com a proteção do Centro histórico da capital paulista.

Em um rápido balanço da sua gestão, o presidente do BC defendeu o legado de seus oito anos de mandato, destacou o fato de o país ter cumprido por sete anos seguido as metas de inflação e afirmou que assegurar o poder de compra da moeda nacional é função fundamental do poder público.

- Saio do governo com o sentimento do dever cumprido. Não poderia imaginar uma gestão mais gratificante e feliz - afirmou, agradecendo ao presidente Lula e elogiando a escolha de Alexandre Tombini, que também estava presente no evento, para substituí-lo.

No balanço, o fato de o país ser hoje credor do FMI

Meirelles afirmou que, com a estabilidade, o real se consolidou como moeda forte e segue tendência de internacionalização, sendo usado cada vez mais em transações cotidianas e como reserva de valor. Segundo o presidente do BC, no fim de 2002 a inflação estava em mais de 30% ao ano e, em maio de 2003, caíra a 17% ao ano. Ele atribuiu as melhorias a uma conjunção de políticas bem-sucedidas. A relação dívida/PIB, um dos indicadores mais observados pelos analistas econômicos, caiu de 60% para 40%.

O presidente do BC ainda defendeu a política de reservas internacionais elevadas, o que, segundo ele, reduziu os riscos de crise cambial. Os benefícios de manter as reservas brasileiras entre as mais altas do mundo, afirmou, foram superiores aos seus custos de manutenção. E ressaltou que, nestes últimos anos, o Brasil passou de devedor do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Clube de Paris a credor. Meirelles participou do lançamento das novas cédulas de R$50 e R$100.