Título: Intrigas expulsaram Suha da Tunísia
Autor: Cembrero, Ignacio
Fonte: O Globo, 14/12/2010, O Mundo, p. 33

Viúva de Yasser Arafat contou a americanos sua versão de briga com primeira-dama

MADRI. ¿Não posso acreditar no que ela me fez!¿. ¿Perdi tudo!¿. Suha Arafat, de 47 anos, viúva do histórico líder palestino Yasser Arafat, gritava, em outubro de 2007, em Malta, durante uma conversa telefônica com o embaixador dos EUA na Tunísia, Robert Godec.

O diplomata não poupou esforços para descobrir o por quê do escândalo. Mesmo sem chegar a uma conclusão definitiva, deduziu que Leila Ben Ali, mulher do presidente tunisiano, Zine El Abidine Ben Ali, era a razão pela qual Suha e sua filha haviam perdido a nacionalidade e sido expulsas do país.

¿Todos que me apoiam são punidos¿, disse Suha ao embaixador, culpando Leila pela perseguição.

Dois meses antes dessa conversa, um decreto retirava de Suha e sua filha, Zahwa, então com 12 anos, a nacionalidade da Tunísia, a qual o presidente Ben Ali havia concedido 11 meses antes, mediante outro decreto. Suha, sua mãe, e filha foram expulsas do país.

Acabava assim a história de amor de Suha com um país que a acolheu no final dos anos 1980. A Tunísia foi a sede da Organização para a Libertação da Palestina até 1993. Foi onde Suha se converteu ao islamismo e onde se casou, em 1990, com o líder palestino.

Arafat morreu em Paris no final de 2004 e Suha retornou à Tunísia, onde montou empresas de sucesso com Leila Ben Ali.

Segundo telegramas vazados pelo WikiLeaks, as duas mulheres decidiram abrir, em setembro de 2007, a Escola Internacional de Cartago, um colégio particular para a elite. Suha investiu 2,5 milhões nas obras. Quatro meses antes, o Ministério da Educação fechou a respeitada Fundação Louis Pasteur, sob o pretexto de que não cumpria com a legislação vigente. Mas um mês antes da abertura da escola, Suha foi expulsa da Tunísia.

¿O que estamos fazendo não é ético¿, disse Suha à sócia, referindo-se ao fechamento da fundação. A partir daí, começavam as brigas, segundo Suha informou ao embaixador americano.

Dois anos depois, em meados de 2009, uma fonte de confiança e profundo conhecedor da batalha dos colégios deu uma nova versão à briga. A escola, na verdade, não seria a razão pela qual Suha perdera a nacionalidade. A expulsão estava relacionada a uma parente de Leila.

A mulher do presidente da Tunísia planejava casar sua sobrinha de 18 anos com o xeque Mohammed bin Rashid al Maktoum, primeiro-ministro dos Emirados Árabes Unidos e emir de Dubai. Al Maktoum já tinha duas mulheres, uma delas irmã do rei Abdullah da Jordânia.

Suha descobriu os planos de Leila e contou para a rainha da Jordânia. A reação da viúva palestina chegou aos ouvidos da esposa do presidente, deixando-a furiosa. Suha tentava alertar o Rei Abdullah que sua irmã teria de competir em Dubai com uma nova e jovem esposa. Sendo assim, Leila Ben Ali forçou Suha a deixar o país.