Título: Berlusconi faz ofensiva para salvar governo
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Fonte: O Globo, 14/12/2010, O Mundo, p. 34
Premier enfrenta hoje voto de confiança que pode levar à dissolução do governo
ROMA. Numa última tentativa de garantir sua permanência no cargo na véspera de se submeter a um voto de confiança decisivo na Câmara e no Senado, o premier italiano, Silvio Berlusconi, fez um discurso ontem apelando aos parlamentares moderados para que o mantenham no poder. O premier evocou os riscos de afundar a Itália no meio da crise do euro se seu governo for derrubado, e propôs uma nova aliança com deputados moderados, prometendo dar mais espaço aos centristas no seu governo. A poucas horas do voto, ninguém ¿ salvo Berlusconi ¿ se arriscava a dizer se o premier sobreviverá à moção. O cenário mais provável, segundo analistas, é uma vitória por apenas um voto, o que pode inviabilizar o governo do Cavaliere, no que está sendo chamado na Itália de do Dia B.
Numa intervenção no Senado, o premier disparou todos os cartuchos à sua disposição para tentar persuadir os parlamentares a votarem a seu favor. Além de aludir à situação econômica do país, que segundo ele passou de problema à solução para a crise da dívida da Europa, Berlusconi jogou sobretudo com a questão da fidelidade, sugerindo que quem votar contra ele, estará na verdade beneficiando a esquerda.
¿ A última coisa que precisamos é uma crise política. Quem votar contra, trairá o mandato recebido dos eleitores ¿ afirmou Berlusconi, referindo-se aos deputados eleitos pelo seu partido, PDL, que migraram em julho junto com Gianfranco Fini, seu antigo braço-direito, para o FLI, desencadeando instabilidade no governo. ¿ Vocês não podem subtrair os votos dos eleitores de centro-direita para somá-los ao da oposição.
Os seguidores de Fini, que já pediram a renuncia do Cavaliere e hesitam entre votar contra ou se abster, qualificaram o discurso de uma ¿desilusão¿.
¿ Ele é incapaz do salto de qualidade de que o país necessita. Os moderados não se sentem mais representados pelo governo ¿ disse Adolfo Urso, coordenador do FLI.
Para Gianfranco Fini, que está certo da derrota do premier, o Cavaliere quer permanecer no cargo ara escapar de dois processos por corrupção e fraude.
¿Não se pode governar com maioria de apenas um voto¿
Sentado ao lado do premier no Senado, Umberto Bossi, líder da Liga Norte ¿ partido de extrema-direita que faz parte da coalizão governamental ¿ saiu em defesa de Berlusconi, mas teme que o resultado não seja suficiente para salvá-lo.
¿ Não se pode governar com maioria de apenas um voto.
Segundo a imprensa italiana, até a véspera da votação haveria pelo menos sete indecisos ¿ que prometiam tirar o sono do premier, enquanto surgiam acusações de que aliados de Berlusconi cometeram suborno em troca de votos. Na manga, o premier também teria dez postos no governo, vazios após a demissão dos simpatizantes de Fini.
Líder do partido centrista de oposição UDC e ex-aliado, Ferdinando Casini também exortou Berlusconi a renunciar antes de se submeter à moção.
Caso perca hoje, Berlusconi deverá apresentar sua renúncia ao presidente Giorgio Napolitano, que em seguida estudaria a possibilidade de uma nova maioria de centro-direita. Se não encontrar saída, Napolitano seria obrigado a dissolver o Parlamento e convocar novas eleições. Ironicamente, o principal beneficiado, nesse caso, não seria Fini, mas Casini e a UDC.