Título: Há 12 anos tentamos ajustar legislação
Autor: Braga, Isabel; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 15/12/2010, O País, p. 3

Presidente do setor rebate denúncias sobre ter pagado por votação

BRASÍLIA. O presidente da Associação Brasileira de Bingos (Abrabin), Olavo Sales Silveira, acompanhou de perto, no salão verde da Câmara, a fase de debates que antecederam a votação do projeto de legalização dos bingos, na Câmara. Na hora da votação, talvez já prevendo a derrota, ele deixou a Casa e foi acompanhar a sessão no hotel onde estava hospedado. Por telefone, Olavo parecia abalado com o resultado. Perguntado sobre a estratégia diante da derrota, afirmou:

- Não sei, vamos nos reunir e decidir. É difícil identificar a razão da derrota. Vamos ver a opinião da maioria e avaliar o que fazer.

Antes da votação, ele disse que faltava uma leitura "mais atenta" do projeto por parte dos deputados que se posicionam contra. Afirmou que a proposta é rigorosa e não permitiria a lavagem de dinheiro:

- Não é um ambiente interessante para a lavagem de dinheiro. É um equívoco grosseiro dizer que a legalização permitirá a lavagem de dinheiro. O crime organizado viceja é em atividade ilegal.

O diretor da Abrabin disse que ficaria caríssimo lavar dinheiro com bingo. Nas suas contas, esse jogo legalizado poderia gerar 17% de royalties para o governo, 30% da arrecadação seria destinada a pagamento de Imposto de Renda, 5% do ISS, além de custos e encargos trabalhistas, PIS e Cofins:

- Se alguém quer lavar dinheiro, é só comprar um prêmio de loteria, fazer como os anões do Orçamento, pagar 10% pelo bilhete premiado da loteria.

O presidente da Abrabin lembrou que a proposta de legalização foi apresentada em 2004, mas só conseguiu avançar nas comissões da Câmara nos últimos anos. Segundo ele, a Abrabin, criada há 12 anos, tentava convencer os deputados de que o projeto é importante, subsidiando com informações sobre experiências de países onde os jogos são legais.

Olavo disse que a Abrabin trouxe ao país até autoridades da Espanha e apresentou um estudo com a legislação e a experiência, em 120 países onde os jogos de azar são legais.

- Há doze anos tentamos ajustar a legislação dos bingos. A Lei Zico previa, mas faltou definir claramente como seria a fiscalização. A regulamentação colocaria o Brasil em paridade com outros países - disse o presidente da Abrabin.

Ele criticou ainda o que chamou de ampla repercussão de denúncias infundadas, feitas por deputados, de que a Abrabin estaria pagando para que deputados votassem a favor do projeto:

- Tivemos um susto com a repercussão de afirmações, sem provas, sem fatos apresentados, de muita gravidade. Se vale fazer acusações sem prova, o rito de projetos aqui no Congresso fica muito ruim.