Título: Oposição escolhe os alvos
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 17/07/2009, Política, p. 3

Na CPI da Petrobras, adversários do Planalto armam ataques a funcionários ligados à cúpula governista e contra a agência reguladora do setor. Haroldo Lima, diretor-geral da Agência Nacional de Petróleo: depoimento do ex-deputado do PCdoB baiano está nos planos da oposição

Com tantos flancos para atacar na CPI da Petrobras, a oposição se prepara para começar por um alvo que os senadores adversários do Planalto consideram mais fácil: a área de comunicação da empresa e a Agência Nacional do Petróleo (ANP), onde os holofotes estão voltados para dois diretores, podendo chegar a três. O primeiro deles é o diretor-geral, o ex-deputado Haroldo Lima (PCdoB-BA), que terá que responder sobre o pagamento de R$ 178 milhões a usineiros, cujos recursos foram liberados a toque de caixa pelo governo. O segundo é Vitor Martins, envolvido em denúncias sobre desvio de recursos de royalties.

Agora, com o foco de luz dirigido à Fundação Sarney, por conta da crise pela qual atravessa o Senado, os oposicionistas pensam em mirar seus esforços ainda para tentar incluir outro diretor da ANP, Alan Kardec Dualibe, maranhense, genro do advogado José Carlos Souza e Silva, que preside a Fundação Sarney. ¿Não é possível que uma pessoa seja chamada apenas por ter casado com a filha de outra¿, diz o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, que é senador pelo PMDB.

A convocação de Alan Kardec, avisam os peemedebistas, não vai ¿colar¿, uma vez que a fundação recebeu recursos da Petrobras e não da ANP. Os caciques peemedebistas afirmam em conversas reservadas que, se os oposicionistas pensam em atingir Sarney, não será pela convocação do genro de um advogado no Maranhão ¿ e nem do próprio advogado ¿ que irão conseguir. A ação política na CPI tem que ter limites, avaliam os governistas.

Fundação Sarney

Ciente dessa dificuldade, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), recordista de pedidos a serem analisados na CPI, se restringiu a requerer à Fundação José Sarney todas as cópias relativas à prestação de contas de serviços feitos com recursos da Petrobras e não incluiu nem um pedido de convocação de pessoas vinculadas à instituição, nem mesmo do primeiro escalão da Petrobras ou da ANP.

Até agora, da ANP, Álvaro Dias só pediu documentos. Da Petrobras, a única convocação que ele deseja no primeiro momento é a de Wilson Santa Rosa, gerente executivo de comunicação da empresa. O objetivo é juntar informações para, na hora de chamar o primeiro escalão, ter o que perguntar. No caso de Santa Rosa, o senador tucano acredita ter munição suficiente. Até porque, durante as investigações (1)do caso que ficou conhecido como o ¿escândalo dos aloprados¿, aquele que envolveu a suposta fabricação de dossiê contra o então candidato ao governo de São Paulo, José Serra, foram detectadas ligações de Hamilton Lacerda, coordenador da campanha petista, a Santa Rosa e, deste, para fornecedores da empresa. Até agora, se depender do ânimo dos oposicionistas, Santa Rosa é quem estreará na cadeira de depoentes da CPI.

1 - AÇÃO POLÍTICA Da parte do governo, os casos que a oposição começa a agendar para abrir a CPI tem um objetivo político claro. No caso da ANP e do pagamento aos usineiros, é atingir diretamente, além do PCdoB, o próprio PT, uma vez que os recursos foram liberados rapidamente pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. No caso de Victor Martins, dizem os governistas, o alvo seria o irmão dele, o ministro Franklin Martins, um dos mais próximos de Lula hoje. E, por último, o presidente do Senado, José Sarney, que vive um inferno astral sem precedentes.

O número R$ 178 milhões Foi o valor do pagamento repassado aos usineiros pela ANP