Título: Quase metade dos brasileiros está acima do peso
Autor: Fabrini, Fábio
Fonte: O Globo, 15/12/2010, O País, p. 15

RETRATOS DO BRASIL

Estudo do Ministério da Saúde revela que indicadores pioraram e, em 2022, podem se assemelhar aos dos EUA

BRASÍLIA. O Brasil está vencendo o fantasma histórico da fome, mas caminha rapidamente para se equiparar à nação mais obesa do mundo. Estudo divulgado pelo Ministério da Saúde mostra que, embora o país já tenha atingido a meta de redução da desnutrição infantil fixada pela Organização das Nações Unidas (ONU), os indicadores de sobrepeso e obesidade pioraram tanto que, mantidas as condições atuais, serão semelhantes aos dos Estados Unidos em 2022.

Às vésperas de sua provável saída do cargo, o ministro José Gomes Temporão, desde 2007 no comando da pasta, anunciou ontem que reagirá a essa realidade: entregará à presidente eleita, Dilma Rousseff, o Plano de Enfrentamento da Epidemia da Obesidade. Além de promover ações educativas para estimular a prática de atividades físicas e melhorar a qualidade da alimentação, a ideia é fazer acordos com a indústria de alimentos para reduzir os teores de açúcares e sal. Seriam semelhantes aos que diminuíram os teores de gorduras trans.

O retrato do Brasil obeso consta do relatório Saúde Brasil 2009. Em 2006, 42,7% dos brasileiros estavam acima do peso, percentual que saltou para 46,6% no ano passado. Os obesos (com índice de massa corporal muito acima do desejável) passaram de 11,4% a 13,9%. Nos EUA, a prevalência é mais que duas vezes isso (33,8%).

Não por acaso, no Brasil, os doentes de diabetes - que tem o excesso de peso entre suas principais causas - aumentaram de 5,2% para 5,8%. Em apenas três anos, a doença passou a ser a terceira maior causadora de mortes no país (49 mil em 2008), atrás apenas dos males isquêmicos do coração (94 mil) e cardiovasculares (97 mil). Em 2005, os homicídios ocupavam a terceira posição. Num período maior, de 1996 a 2007, as mortes por diabetes cresceram 10%.

- O problema do Brasil não é mais a desnutrição, mas a obesidade infanto juvenil e o aumento de peso - disse Temporão, atribuindo o quadro à mudança dos costumes do povo.

O brasileiro está comendo mais alimentos ricos em gorduras, em vez do tradicional arroz com feijão. E é cada vez mais sedentário.

- Estamos sentados em cima de uma bomba-relógio que vai se declarar em toda a sua complexidade e contundência daqui a 20 anos - previu o ministro.

O documento deve ser encaminhado a Dilma ainda este mês, após análise do ministro. A meta de redução da desnutrição anunciada ontem foi vencida pelo Brasil em 2006. É um dos componentes do objetivo do milênio 1: erradicar a extrema pobreza e a fome. O país tinha de diminuir à metade o déficit de peso em crianças com menos de cinco anos até 2015: conseguiu baixá-lo de 7,1% em 1989 a 1,8% naquele ano. Houve queda também do déficit de altura.

Mantido o ritmo das estatísticas, as metas de diminuição de mortalidade infantil serão alcançadas em 2012, três anos antes do prazo. O número de óbitos a cada mil bebês de até um ano nascidos vivos caiu 59,7% entre 1980 e 2008; entre crianças de até cinco anos, 57,6%.