Título: Concessionárias faturaram R$ 1,8 bi no ano passado
Autor: Borges, André
Fonte: O Globo, 17/12/2010, Empresas, p. B10

A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que administra os contratos de concessão, decidiu tomar o pulso financeiro das concessionárias que hoje operam as rodovias federais do país. O Valorteve acesso com exclusividade ao estudo realizado pela primeira vez pela agência. O diagnóstico aponta que os consórcios nunca faturaram tanto. Em contrapartida, a elevação dos gastos dessas empresas para manter as operações em ordem e cumprir as metas de concessão nunca havia atingido o nível atual.

Hoje o programa de concessões de rodovias sob a esfera da União soma 4.763,8 km de estradas concedidas ao setor privado. De acordo com o relatório de acompanhamento financeiro (Reafi), que analisou dados de 2005 a 2009, as 13 concessionárias em operação no país registraram uma receita líquida total de R$ 1,796 bilhão no ano passado, montante que foi obtido, basicamente, com a cobrança de pedágio do consumidor.

O volume é 47,8% superior à receita registrada em 2008, quando a conta fechou em R$ 1,215 bilhão. Esse forte crescimento deve-se, em grande parte, à segunda etapa do programa de concessões da ANTT, que em 2009 passou a contabilizar mais sete trechos de concessão. Pesou também no balanço a retomada da economia no ano passado, depois da crise financeira que estourou em 2008.

Apesar do crescimento na receita líquida das concessionárias, o levantamento aponta que 2009 foi o ano em que as empresas registraram o maior volume de gastos operacionais dos últimos quatro anos. Esses gastos operacionais contabilizam desde a manutenção nos pavimentos e melhoria nas rodovias até atividades administrativas das concessionárias. Em 2005, para cada R$ 100 injetados em gastos operacionais, as concessionárias faturaram R$ 203. Em 2008, nessa mesma relação a receita chegou a R$ 227. No ano passado, porém, caiu para R$ 189. Somados, os custos das concessionárias mais que dobrou entre 2005 e 2009, saltando de R$ 400 milhões para R$ 947 milhões. Essa alta dos gastos sugere a ideia de que houve maior alocação de recursos para melhorias das entradas, mas é preciso ponderar que parte desses gastos refere-se a custos administrativos das próprias concessionárias.

Segundo Bernardo Figueiredo, presidente da ANTT, o Reafi - que passará a ser feito uma vez por ano - vai ajudar a agência a monitorar as ações realizadas e a identificar se as concessões estão gerando fortalecimento ou enfraquecimento das áreas reguladas. "Passamos a contar com uma ferramenta consolidada para analisar os efeitos da ação regulatória, que mostra como o mercado está se comportando e que nos orienta para novas concessões", comenta. "Se a rentabilidade estiver alta, por exemplo, podemos adotar mecanismos para gerar mais investimentos."

O estudo, segundo Figueiredo, apontou que o setor possui uma "situação financeira sólida" e que, no momento, não cabe qualquer medida corretiva.

Hoje, dos 14.552 km de rodovias concessionadas do país - extensão que inclui as concessões estaduais - 54,7% têm o estado geral classificado como "ótimo", segundo a pesquisa CNT de Rodovias 2010. No ano passado, esse percentual era de 42,5%. Aquelas consideradas como "ruim ou péssimo" somam apenas 1,4%.

Os investimentos privados totais injetados nas estradas brasileiras saltaram de R$ 635,1 milhões em 1999 para R$ 24,8 bilhões em 2008, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Do lado do governo, os investimentos foram puxados pelas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Entre 2007 e 2010, os repasses para as estradas - o que inclui recursos da União, estatais, empresas, Estados e municípios - atingiram R$ 42,9 bilhões, o equivalente a dois terços de tudo que foi aplicado na área de logística do país. (AB)