Título: Prioridade é melhorar gestão no SUS
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Fonte: O Globo, 19/12/2010, Opinião, p. 6

A uma campanha eleitoral pobre em debates seguiu-se a montagem do ministério da presidente eleita Dilma Rousseff balizada mais por interesses político-partidários do que lastreada em propostas concretas de gestão. Fora da área econômica e outros cargos de grande proximidade da presidente, como a Casa Civil, a escolha de "a" ou "b" tem sido feita mais em função do que a nomeação pode representar em votos no Congresso do que qualquer outra coisa.

Há o caso específico da Saúde, área vital, por motivos óbvios. Assentada sobre o sistema único de atendimento universal, instituído na Constituição de 1988 (o SUS), a saúde pública é fonte de renitentes dores de cabeça para os governantes. Merece cuidados especiais da presidente Dilma Rousseff.

Ela não pode cometer o equívoco de considerar que a Saúde entrará nos eixos com mais dinheiro, e herdar a obsessão de Lula pela volta da CPMF. Lula, com esta ideia fixa, demonstra não ter digerido a derrota sofrida no Senado na revogação do imposto em dezembro de 2007. O presidente não perde oportunidade de pregar a ressurreição do malfadado gravame, um imposto iníquo, por taxar mais os pobres que os ricos, e prejudicial às exportações e à economia como um todo, ao incidir "em cascata" sobre o setor produtivo (ao ser cobrado várias vezes sobre as diversas etapas de produção).

Já é mais do que sabido que os R$40 bilhões subtraídos da receita tributária com o fim da CMPF foram repostos em poucos meses pelo aumento da arrecadação, impulsionada pela aceleração da economia e crescente eficiência da máquina arrecadadora. E sequer os recursos da CPMF eram integralmente passados para a área de saúde.

É boa notícia que a presidente eleita elogiou o Hospital do Subúrbio, de Salvador, em operação desde setembro sob a administração de uma parceria público-privada (PPP) formada entre o governo da Bahia e um consórcio privado, o Prodal Saúde S.A. A qualidade do atendimento do hospital tem recebido elogios da população.

Que o exemplo de Salvador sirva para Dilma se convencer que a prioridade, na Saúde, é melhorar a gestão em todo o sistema único. Se não forem melhorados os métodos administrativos no setor, colocar mais dinheiro nele por meio de um substituto da CPMF servirá apenas para prejudicar o contribuinte.

Métodos modernos como a parceria de Salvador e as organizações sociais, já há algum tempo criadas em São Paulo para administrar hospitais públicos, são ferramentas essenciais para melhorar o atendimento na rede pública. Há pesquisas e fartas estatísticas que atestam os ganhos obtidos pelas organizações sociais.

O próprio ministro que sai, José Gomes Temporão, encaminhou ao Congresso projeto de lei com este fim, mas sofreu pesado fogo de barragem das corporações sindicais representadas no PT, e recuou.

Com capital político para gastar, a presidente eleita deve aproveitar o início de mandato e mandar retirar das gavetas o projeto. Precisa ser um objetivo estratégico da sua gestão modernizar a administração de hospitais e postos de atendimento públicos.