Título: Parentesco pode ajudar a conseguir gabinete cobiçado
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 19/12/2010, O País, p. 10
No Anexo IV, o mais disputado, só 80 salas poderão ser sorteadas
BRASÍLIA. Nas eleições de outubro, 223 deputados foram eleitos para o primeiro mandato como federal. Até sexta-feira, eram 145 gabinetes vagos, dos quais 80 no Anexo IV, o enorme prédio amarelo apelidado de "serra pelada", e 65 no Anexo II, o prédio principal das duas torres.
- Ex-parlamentares com direito a resgatar o gabinete que ocuparam no passado, é até aceitável. Mas fazer uma regra e beneficiar por relação de parentesco, que transfira do atual para o parente é, no mínimo, esquisito. Não chega a ser nepotismo, mas é um privilégio que não deveria existir e fere a regra democrática de distribuição dos gabinetes por sorteio - diz o diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antônio Augusto de Queiroz, conhecido como Toninho do Diap, que transita há décadas pelos corredores do Parlamento.
Mas a briga pelos melhores gabinetes começou antes. Deputados atuais têm direito a tentar um gabinete melhor, se ele estiver vago. E os novatos foram beneficiados pelas regras de preferência.
Segundo a resolução da Câmara para a definição dos gabinetes, primeiro escolhem os ex-presidentes da Casa, que têm direito a gabinete duplo e mais perto do plenário. Na Câmara, há quatro gabinetes destinados a ex-presidentes. Atualmente são quatro ex-presidentes. E a direção não terá que arrumar outro gabinete desse tipo, já que Michel Temer, o presidente nos últimos dois anos, irá para o Palácio do Planalto.
Idosos, mulheres e deficientes têm preferência
Em seguida, a preferência é de eleitos com dificuldades de locomoção ou necessidades especiais - desde que comprovadas mediante laudo atestado pelo Departamento Médico desta Casa -, idosos, mulheres e ex-congressistas.
Nesse último caso, podem se beneficiar com a preferência três ex-senadores: Eduardo Azeredo (PSDB-MG), Sérgio Guerra (PSDB-PE) e Almeida Lima (PMDB-SE). Azeredo e Guerra, porém, têm preferência também por terem mais de 60 anos. A resolução foi alterada pela Mesa Diretora, baixando de 65 para 60 anos a preferência para idosos.
Houve época em que os petistas, novatos, se concentravam no anexo III - considerada a pior área de gabinetes, porque são pequenos e não têm banheiros privativos. O paulista José Genoino costumava dizer que "quem faz opção pelo trabalho, escolhe o anexo III"
Entre os atuais deputados que se reelegeram, só 12 tinham optado por ficar num dos 77 gabinetes do Anexo III. Já entre os cobiçados 432 gabinetes do Anexo IV, sobraram só 80 gabinetes para sorteio. No prédio principal, o da torre, só se consegue um gabinete novo com muita sorte e a conjunção de vários fatores. (Isabel Braga)