Título: Uma equipe que deverá ter curto prazo de validade
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Fonte: O Globo, 19/12/2010, O País, p. 13

Para especialistas, Dilma não imprimiu sua marca no Ministério

BRASÍLIA. Quem é Dilma Rousseff, o que pensa e qual a cara de seu governo? Para analistas ouvidos pelo GLOBO, são respostas que só deverão ser conhecidas pelos brasileiros dentro de, aproximadamente, um ano. Neste momento, avaliam, a presidente eleita está agindo em função da força excessiva do presidente Lula e da importância que os partidos aliados também tiveram em sua eleição. Muito pouco do que tem feito até agora tem a sua marca.

O professor Antônio Flávio Testa, cientista político da Universidade de Brasília (UnB), verbaliza o que já se ouve nas rodas políticas de Brasília: o Ministério que Dilma está montando agora não vai durar muito tempo.

- Dilma só assumirá totalmente o controle do governo no fim do ano - disse Testa.

Frase semelhante disse semana passada, reservadamente, um dirigente da linha de frente do PMDB sobre a especulação de que é um Ministério provisório:

- Acho que está se formando cada vez mais forte essa convicção.

Mas Antonio Flávio Testa considera que, embora Dilma aparente ter pouca experiência política, ela adquiriu, ao longo dos últimos anos, traquejo para negociar com interlocutores nada fáceis, como governadores e prefeitos. Agora está enfrentando os parlamentares que vivem em Brasília. Ele lembra, no entanto, que Dilma terá a seu lado, como braço-direito e chefe da Casa Civil, Antonio Palloci, que tem credibilidade e grande capacidade de articulação.

- A maior dificuldade é no PT. O PMDB, pelo que parece, já conseguiu resolver seus problemas internos. Vejo, contudo, no PT, facções que precisam ser contempladas. Aí entram estatais e segundo escalão. Mas a chegada de Ciro Gomes acabou atrapalhando o processo - afirma Testa.

Dutra: "Dilma terá governo de continuidade"

O cientista político Paulo Peixoto considera mais grave a situação do Ministério que Dilma está compondo. E chega a comparar com a situação do ex-presidente José Sarney, herdeiro de um Ministério montado por Tancredo Neves, que morreu antes de assumir. No primeiro momento, Sarney foi obrigado a aceitar a equipe do jeito que estava, sem uma marca pessoal.

- Dilma está com sua liberdade de ação limitada pela própria continuidade, com o cuidado de não tomar medidas que rompam com seu passado. Por enquanto, ela não quer criar atritos. Teremos que esperar, talvez um ano, para vermos realmente quem é a presidente da República - diz Peixoto.

O presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, contesta a comparação e diz que, numa situação muito diferente da de Sarney, Dilma foi eleita e fará um governo de continuidade.

- O Sarney não foi eleito e assumiu numa transição dos governos militares para o regime civil quando Tancredo já tinha todo o Ministério formado. Ele não indicou ninguém. A Dilma foi eleita e terá um governo de continuidade. É natural que alguns ministros com os quais trabalhou continuem. O Sarney depois foi mudando. Não existe Ministério que dure quatro anos sem qualquer mudança. Não teve no Fernando Henrique, não teve no Lula e com Dilma também certamente não terá - disse Dutra. (Eliane Oliveira e Maria Lima)