Título: Fazenda americana invadida é registrada como brasileira
Autor: Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 19/12/2010, O Mundo, p. 36
Juiz que queria negociar com MST foi substituído
Em 25 de setembro 2005, o MST invadiu a AgroReservas do Brasil, em Unaí (MG). O fato chamou a atenção do então embaixador John Danilovich. "A fazenda, de propriedade americana, foi invadida por 300 a 500 integrantes do MST, que se mudaram para as casas dos trabalhadores, bloquearam as estradas de acesso, cortaram árvores, e reivindicaram 10 mil hectares de terra para plantio", escreveu o embaixador, em telegrama confidencial de 11 de outubro, afirmando que a propriedade possuía "70 mil hectares", sob propriedade da Farm Management Company, de Salt Lake City.
Danilovich aponta que, naquele ano, a ação faz parte de um grupo de ocupações do "setembro vermelho", uma ofensiva para pressionar o presidente Lula a assentar as 400 mil famílias prometidas em seu programa de governo. A embaixada demonstra preocupação com a demora em obter a ação de despejo dos sem-terra, sem a qual a polícia "prometida" pelo governo do Estado não poderia fazer o despejo, apenas a segurança. "Durante a semana de 26 de setembro, o juiz estadual decidiu negociar com os líderes do MST antes de emitir uma ordem de despejo e os policiais militares concordaram em permanecer na fazenda até que as negociações fossem concluídas". Depois, o gerente da fazenda informa à embaixada que "o juiz que queria negociar com o MST foi substituído por "novo juiz, mais razoável"".
Enquanto aguarda o impasse, Danilovich descarta que a ocupação tenha sido motivada pelo fato de a fazenda ser propriedade de americanos.
Em outubro do mesmo ano, o MST desocupou a fazenda. O juiz Fernando Humberto dos Santos, da Vara de Conflitos Agrários de Minas Gerais, que concedeu liminar permitindo aos proprietários a reintegração da posse da fazenda AgroReservas do Brasil, negou na ocasião que tivesse havido qualquer acordo entre a Justiça e o movimento.
Em recente reportagem, o "Correio Braziliense" afirmou que a AgroReservas do Brasil é a maior propriedade em nome de estrangeiros no país. Há 4,3 milhões de hectares sob propriedade estrangeira (cerca de 3% do território brasileiro). Embora o telegrama revelado pelo WikiLeaks fale de 70 mil hectares, o texto do jornal aponta que, pelo cadastro do Incra, estão registrados apenas 44 mil hectares. Ainda segundo a reportagem, no cartório da cidade, a empresa é registrada como brasileira. O GLOBO apurou que, na Junta Comercial do Estado de São Paulo, a AgroReservas está no nome da Farmland Reserve Inc, uma das empresas dos mórmons, da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. (T.F.)