Título: Um milhão de mulheres agredidas em 2009
Autor: Tinoco, Dandara; Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 16/12/2010, O País, p. 18

Segundo estudo do IBGE, um quarto delas foi vítima de marido ou ex. Mais da metade não procurou a polícia

RECIFE E RIO. Um milhão de mulheres foram agredidas no Brasil em 2009, sendo que 25,9% delas foram vítimas do marido ou do ex-companheiro, de acordo com a pesquisa "Características da vitimização e do acesso à Justiça no Brasil", divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A maioria delas (51,6%) não procurou a polícia. A justificativa de mais da metade (55,6%) foi não querer envolver a polícia ou ter medo de represália.

Casos como o da dona de casa D.R., de 31 anos, moradora de Alto José Bonifácio, subúrbio de Recife, engrossam os números. Mãe de um casal de filhos, ela vinha apanhando sistematicamente do marido desde o ano passado. Levou socos, chutes e tapas tão fortes que, uma vez, ele precisou engessar a mão depois de agredi-la. Temendo novas violências, não o denunciou à polícia. As constantes agressões dificultavam o avanço no tratamento da síndrome do pânico, doença que desenvolveu há sete anos, quando sofreu uma tentativa de estupro.

- Tem homem que não pode ver a mulher feliz. Ele não quer me ver alegre, nem conversando com minha família, nem bebendo com meus parentes, nem dançando em casa. Normalmente as mulheres apanham devido ao alcoolismo do marido. Ele, não. Ele bate porque é ruim mesmo - conta D.R., que semanalmente vai ao psiquiatra e toma medicamentos.

O trauma atinge também vítimas de roubos

Morador de São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, o analista Bruno Mendonça, de 30 anos, conta que foi tomado pela sensação de insegurança após levar um tiro em um assalto:

- Nos dias seguintes, fechava os olhos e via a cena novamente. Fiquei dias sem dormir.