Título: Um novo desenho da população carioca
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Fonte: O Globo, 05/12/2010, Opinião, p. 6

A população do município do Rio de Janeiro é a segunda entre as cidades brasileiras, com 6.323.037 habitantes, atrás apenas de São Paulo (com 11.244.369 residentes). A terceira cidade, Salvador, tem menos da metade da população do Rio. Duas outras cidades do Estado do Rio, na região metropolitana (São Gonçalo e Duque de Caxias), se aproximam da casa de 1 milhão de moradores).

Os dados do Censo de 2010, divulgados pelo IBGE, mostram o Rio com uma taxa de expansão demográfica decrescente, avizinhando-se da estabilização. No entanto, há regiões do município onde a população aumentou em ritmo semelhante ao observados em estados do Norte e do Centro-Oeste do país. É o caso da Barra da Tijuca, cujo número de habitantes saltou em dez anos de 174 mil para cerca de 300 mil. Ou de Jacarepaguá (22%) e Santa Cruz (18%).

O que era perceptível visualmente foi confirmado estatisticamente pelo Censo: a população da Rocinha aumentou 23% de 2000 para 2010, chegando a 87.455 habitantes, o que a torna, isoladamente, a maior favela do Rio (e certamente mais populosa do que a maioria dos municípios brasileiros). O conjunto das favelas da Maré concentra mais pessoas (130 mil) do que o Complexo do Alemão (69 mil).

Os números do Censo permitem uma avaliação da dinâmica urbana e econômica do município do Rio. As famílias estão se tornando menos numerosas. A demanda por novas habitações tende a se traduzir na busca de mais conforto, oferta de transportes, serviços e lazer, além de preços que se encaixem nos orçamentos familiares.

Nesse sentido, o mercado imobiliário e os novos centros comerciais vêm refletindo tais tendências, pois Barra da Tijuca, Jacarepaguá e o restante da Zona Oeste ainda têm razoável oferta de terrenos vazios, mais atrativos para novas construções.

As políticas públicas municipais - e também estaduais - estão indo igualmente nessa direção, com a expansão dos transportes de massa (mais trens e linhas de metrô) e dos corredores para ônibus articulados que funcionarão quase como um metrô de superfície.

Até os Jogos Olímpicos de 2016 o Rio deverá contar com uma malha de transportes de massa integrada capaz de reduzir o tempo de deslocamento entre pontos extremos. Mas esse crescimento da Zona Oeste pode, e deve, ser atenuado por uma recuperação dos tradicionais subúrbios, dos bairros da Zona Norte e, principalmente, do Centro e da Zona Portuária, que ainda respondem por cerca de 40% dos empregos formais gerados no município.

À medida que a Zona Portuária volte a ser uma boa opção de moradia, muitas pessoas terão a alternativa de morar perto do local de trabalho e entretenimento, evitando grandes e desnecessários deslocamentos.

O Censo de 2010 trouxe números mais consistentes sobre a distribuição espacial e as condições de moradia da população da capital e de todo o Estado do Rio de Janeiro. São dados preciosos para o planejamento das políticas públicas.