Título: Emprego bate novo recorde
Autor: Ribeiro, Fabiana; Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 18/12/2010, Economia, p. 27

Taxa de desocupação cai a 5,7%, a menor da série. Renda encolhe 0,8% devido à inflação

Apesar de ainda ter um contingente de 1,359 milhão de desempregados nas suas seis maiores regiões metropolitanas, o Brasil apresentou, em novembro, a menor taxa de desocupação já registrada na série histórica do IBGE, que teve início em 2002: 5,7%, contra 6,1% do mês anterior. Em novembro do ano passado, a taxa era de 7,4%. Mesmo considerando a metodologia antiga do IBGE, a taxa atual é considerada muito baixa. O resultado veio abaixo do esperado por analistas e muitos já veem sinais de que o Brasil está vivendo o pleno emprego. A população desocupada encolheu 5,9% em relação a outubro e 20,7% frente a novembro do ano anterior.

A alta da inflação, porém, corroeu os ganhos dos trabalhadores. A remuneração média ficou em R$1.516,70 - 0,8% menor do que em outubro, mas ainda 5,7% acima do patamar de novembro de 2009.

- A taxa de desemprego do Brasil está no nível da taxa americana de antes da crise financeira. Hoje, a taxa de desocupação do país é a 13ª maior no grupo das 20 maiores economias do mundo - disse Cimar Azeredo, gerente da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, divulgada ontem.

Comércio do Rio puxa melhora

Segundo o IBGE, o comércio do Rio de Janeiro foi o que mais influenciou o comportamento da taxa de desemprego em novembro. Apenas no Rio, o número de vagas avançou 6% frente a outubro e 18,1% na comparação com novembro de 2009.

- Foram criados 54 mil postos de trabalho no comércio do Rio. O que é um reflexo das vendas aquecidas para o Natal e do verão que estimula o consumo, a hospedagem, serviços e atividades na praia - acrescentou Azeredo, ressaltando que a taxa de desemprego média do país está em 6,9%. - Em 2003, era de 12,5%. Em São Paulo, essa média caiu de 14,3% para 7,2%.

Com a inflação corroendo parte da renda dos brasileiros, a massa salarial (soma dos ganhos de todos os trabalhadores) ficou do mesmo tamanho. São R$34,4 bilhões em potencial de consumo - estável no mês e 10,4% maior que um ano antes.

- O rendimento dos trabalhadores deve se estabilizar num nível mais alto nos próximos meses. Mas é bom lembrar que, se a renda começa a crescer acima da produtividade, tem-se uma pressão inflacionária - disse José Camargo, economista da Opus Gestão de Recursos, que prevê uma taxa de desemprego média de 6% em 2011.

Na avaliação de Felipe Wajskop, economista do ABC Brasil, outra boa notícia é o crescimento das contratações com carteira assinada. Enquanto a população ocupada aumentou 3,7% ante novembro de 2009, representando 795 mil novos postos de trabalho, o número de trabalhadores com carteira cresceu 8,7% na mesma comparação, ou 839 mil novos empregos formais.

- Isso levou a proporção de trabalhadores com carteira assinada ao maior nível da série - disse Wajskop. - O desempenho do mercado de trabalho continua mostrando que a demanda doméstica se mantém firme, acendendo um sinal amarelo na própria percepção do Banco Central, que certamente subirá os juros em 2011.

Para o especialista em mercado de trabalho Lauro Ramos, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a taxa de desemprego deve ficar ainda mais baixa, perto de 5,2% em dezembro, quando historicamente a desocupação cai fortemente.

- A trajetória de queda do desemprego é muito impressionante. É robusta, bem definida - diz Ramos.

Segundo o chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV), Marcelo Neri, também impressiona chegar a esse patamar de desemprego com inflação de 5,63% nos últimos 12 meses:

- Mesmo com a aceleração, ainda é uma inflação baixa para os padrões históricos. Estudo recente que fizemos mostrou que todas as estatísticas do mercado de trabalho estavam no melhor nível histórico.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a interromper os discursos de encerramento da cúpula do Mercosul, realizada em Foz do Iguaçu, para anunciar a taxa.

- Eu nunca imaginei estar vivo para ver uma notícia como essa que acabei de receber. O desemprego no Brasil é o menor da série histórica: 5,7%. Isso, dez anos atrás, a gente imaginava que só aconteceria na Austrália, na Alemanha, na França, nos EUA. E agora isso está acontecendo pelas bandas da América do Sul. Isso está acontecendo em todos os países latinos e é uma coisa extraordinária.

Estudo divulgado ontem pelo Ministério do Trabalho com base em dados do Dieese mostra que a rotatividade atingiu 36% em 2009. Essa é a parcela de pessoas que foram demitidas ou que pediram demissão, mas se empregaram de novo no mesmo ano. A taxa era de 34,3% em 2007 e 37,8% em 2008.

COLABORARAM: Martha Beck e Gilberto Scofield