Título: Novo protagonismo
Autor:
Fonte: O Globo, 23/12/2010, Opinião, p. 6

O Brasil passou a ter um outro papel no cenário internacional a partir de 2003, com a política externa do governo Lula. A baixa consistência estratégica da diplomacia praticada antes de Lula e as políticas econômicas neoliberais internas se retroalimentavam num círculo vicioso que enfraquecia a capacidade do Estado nacional de formular e implementar diretrizes e ações destinadas à conformação de um novo ciclo de desenvolvimento e de um maior protagonismo internacional do país.

Nesses quase oito anos, livramo-nos do modelo subalterno do governo FH, e o país passou a ter outro papel, com amplo reconhecimento internacional. Não há mais foro importante de que o Brasil não participe. Mesmo assim, a oposição, com apoio de setores da mídia, continua a atacar os avanços que obtivemos no campo externo e formula críticas sem consistência, baseadas em puro preconceito.

A nova política externa aumentou extraordinariamente os superávits comerciais, para além do crescimento do comércio mundial e do aumento dos preços das commodities. Isso contribuiu para a obtenção de uma verdadeira estabilidade macroeconômica no Brasil. Diversificamos enormemente nossas parcerias econômicas e comerciais, sem romper com os parceiros tradicionais, superando assim a vulnerabilidade externa do Brasil.

O país passou a atuar de forma independente, rompendo com os ditames das antigas metrópoles. Atuamos para aprofundar os vínculos com países em desenvolvimento. Com a atuação das tropas de paz no Haiti, as gestões para um entendimento na questão nuclear entre o Irã e o Ocidente, o Brasil consolidou presença no cenário internacional. Destaca-se também a ênfase na cooperação Sul-Sul, na integração regional e no fortalecimento do Mercosul, na articulação dos países em desenvolvimento nas negociações da OMC e na transformação do antigo G-8 no G-20.

O governo do PT e aliados foi fundamental ao contribuir para a formação de uma ordem mundial mais permeável aos interesses dos países em desenvolvimento. O grande desafio do governo Dilma é consolidar o processo, fazê-lo avançar e manter a projeção externa do Brasil. Esse novo papel do Brasil, com uma política externa norteada pela defesa dos interesses nacionais, foi referendado pelos eleitores brasileiros nas últimas eleições.

O governo Lula deu ênfase, no plano interno, à distribuição de renda, à eliminação da pobreza e à consequente dinamização do mercado interno. No plano externo, empenhou-se na busca de novos espaços e na superação de dependências econômicas e políticas. Promoveu um desenvolvimento que combate as assimetrias econômicas entre os países.

O resultado é que o país é ator internacional de primeira linha, reconhecido como tal em todos os foros globais e saudado, pelos líderes, como uma potência em ascensão. Internamente, ainda restam as chorosas viúvas da dependência aos interesses estratégicos da única superpotência. É, convenhamos, muito pouco para fazer retroceder política tão importante e plena de realizações. Não há porque mudar uma política que recuperou o histórico sentido estratégico de promoção do desenvolvimento nacional sustentado e de elevação do protagonismo do Brasil. Estamos contribuindo para dar ao mundo uma visão compartilhada de um novo multilateralismo.

FERNANDO FERRO é deputado federal (PT-PE) e líder do partido na Câmara.