Título: Ajustes finais no Ministério
Autor: Camarotti, Gerson; Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 22/12/2010, O País, p. 3

Dilma anuncia mais cinco ministros; Luiz Sérgio, do PT, assumirá Relações Institucionais

A presidente eleita, Dilma Rousseff, anunciou ontem mais cinco nomes e deve fechar hoje seu Ministério. O deputado Luiz Sérgio (PT-RJ) foi convidado para ser o ministro da Secretaria de Relações Institucionais (SRI). De atuação política discreta, a presença de Luiz Sérgio no Planalto vai reforçar a influência política do deputado Antonio Palocci (PT-SP) como chefe da Casa Civil. Dilma e o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, ficaram até tarde tentando resolver a guerra das correntes para anunciar hoje os dois últimos ministros: da Mulher e do Desenvolvimento Agrário.

Sem o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) no ministério, o PSB perde Aeroportos, e terá apenas as pastas de Integração Nacional e Secretaria de Portos. Para esse cargo, no lugar de Pedro Brito, a família Cid/Ciro Gomes indicou o desconhecido prefeito de Sobral, Leônidas Cristino.

Para resolver uma guerra interna da corrente Democracia Socialista (DS), Dilma teve que voltar atrás no convite a Lucia Falcón para o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Até ontem à noite, o desconhecido deputado baiano Afonso Florence, secretário de Desenvolvimento Urbano do governo Jaques Wagner (BA), era o mais cotado para o cargo.

Dilma queria nomear Maria Lucia Falcón, secretária de Planejamento do governo Marcelo Déda (SE). Com a notícia do convite a Lucia, os deputados da DS retaliaram e derrubaram a indicação de Cândido Vaccarezza (PT-SP), preferido de Dilma, para a presidência da Câmara.

Luiz Sérgio substituirá Alexandre Padilha, indicado para Saúde, no comando da articulação política do Planalto. Ex-líder da bancada do PT na Câmara, ele é considerado um parlamentar de confiança da cúpula petista, mas com pouco trânsito nos demais partidos aliados. Isso fará com que Palocci participe da articulação política.

- O grande desafio será manter a base unida. O PMDB e o PT estarão juntos no governo Dilma - disse Luiz Sérgio, antes do anúncio oficial.

Ontem, antes mesmo de seu nome ter sido confirmado oficialmente, ele recebeu parabéns de vários deputados ao passar pelo plenário da Câmara. Ao ser chamado de ministro no plenário, o petista perguntou num ato falho:

- Já é oficial?

O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) brincou:

- Quero saber se você vai liberar a minha emenda. Vai se acostumando, esse será o pedido que você vai mais ouvir.

O Rio estará representado com quatro ministros, incluindo Carlos Lupi, do Trabalho; Ana de Hollanda, da Cultura, e Moreira Franco, da Secretaria de Assuntos Estratégicos. Luiz Sérgio é próximo ao ex-chefe da Casa Civil, José Dirceu.

Criação da secretaria de Aeroportos é adiada

Dilma resolveu o impasse com o PSB, mas o partido sai fraturado com o convite frustrado a Ciro para ocupar uma pasta. Depois de muita polêmica, ela aceitou duas indicações do partido: o ex-prefeito de Petrolina Fernando Bezerra Coelho para o Ministério da Integração Nacional; e o prefeito de Sobral, Leônidas Cristino, para a Secretaria de Portos. O acerto foi feito com os governadores Eduardo Campos (PSB-PE) e Cid Gomes (PSB-CE), que ontem se encontrou com Dilma.

Inicialmente, estava prevista a criação da secretaria de Portos e Aeroportos. Mas diante da possibilidade de crise aérea, Dilma decidiu manter toda a área de Aeroportos no Ministério da Defesa. Só depois ela vai avaliar a conveniência de criar a pasta de Aeroportos.

- O PSB ficou contemplado com os dois ministérios - resumiu o vice-presidente do PSB, o ex-ministro Roberto Amaral.

Dilma decidiu manter no cargo o atual ministro Jorge Hage, da Controladoria-Geral da União. Havia pressão do PT mineiro pelo cargo. Mas com a falta de entendimento entre os grupos mineiros, Dilma optou pela solução caseira.

De última hora, Dilma tentou uma negociação com a DS e aceitou a indicação do senador eleito Walter Pinheiro (PT-BA), como representante da tendência para o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Mas ele recusou:

- Acabo de ser eleito senador pela Bahia. Não dava para não exercer o mandato.

Com a recusa de Pinheiro e a guerra da DS com o Nordeste, o nome de Afonso Florense passou a ser negociado. Já para o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), depois de um encontro com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, Dilma escolheu o general de Exército José Elito Carvalho Siqueira. Ele esteve na missão do Haiti.

Até ontem a noite, o nome da deputada Iriny Lopes (PT-ES) era cotado para a Secretaria da Mulher. O problema era a resistência da tendência petista Articulação de Esquerda, inconformada por ter perdido a pasta da Pesca.

COLABOROU: Catarina Alencastro