Título: País tem 901 mil domicílios que não foram recenseados
Autor: Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 26/12/2010, Economia, p. 25

Parcela de casas em que o morador não foi encontrado subiu de 0,97%, em 2002, para 1,34%, este ano

O aposentado Rubens Airton Nobre não deu entrevista para o recenseador do Censo Demográfico 2010, levantamento decenal do IBGE. Nem ele nem seus 18 vizinhos, num condomínio de Búzios. Ele duvida dos números divulgados no fim do mês passado pelo IBGE de que somos 190,732 milhões de habitantes no Brasil:

- Reclamei com o IBGE por e-mail e, mesmo assim, não fomos visitados. O IBGE divulgou que somos 191 milhões. Eu acrescentaria pelo menos mais 30%, pois se no Rio está acontecendo isso, imaginem no resto do Brasil.

A queixa de Nobre pode ser estendida a 901 mil domicílios que foram considerados fechados pelo IBGE. Isso quer dizer que o morador não foi encontrado para responder ao Censo. A parcela de domicílios fechados cresceu de 0,97% em 2000, data do censo anterior, para 1,34% este ano. Em números absolutos, passou de 528,6 mil para 901 mil agora.

Segundo o presidente do IBGE, Eduardo Nunes, houve uma proporção menor de casas vagas (sem moradores nem eventuais) em relação a 2000, caindo de 11,1% há dez anos para 9%, agora.

- Com o trabalho de supervisão, muitos domicílios que foram classificados como vagos foram abertos. Certamente em 2000, muitos domicílios fechados foram considerados como vagos.

Domicílios fechados também são considerados no cálculo

Nunes afirma que, mesmo que a casa não tenha sido visitada pelo recenseador, os moradores foram contados no Censo. Pela primeira vez, o IBGE estimou o número e as características dos moradores e do domicílio para os que foram considerados fechados.

Assim, na primeira fase do censo, foram contados 185 milhões. O trabalho de supervisão elevou o número para 188 milhões, e a estimativa para os domicílios fechados chegou aos mais de 190 milhões.

O contador Luiz Araujo é outro brasileiro que duvida dos números do IBGE. Morador da Piedade, onde também moram sua filha e os sogros, a situação se repetiu:

- Não há dificuldade de acesso. Fui recenseado em 2000. Moro na capital, numa rua calçada, plana, não considerada área de risco, servida por linhas de ônibus, a cem metros da sede do Inmetro e sempre com alguém em casa durante o dia.

"Nenhum país entrevista 100% da população"

No Rio, a parcela de domicílios fechados foi superior à do Brasil: 2,06% (126 mil lares), para 1,34% da média brasileira. Na capital, o índice sobe para 2,7%, com 65 mil casas fechadas. Nunes diz que é natural que as cidades grandes tenham um índice de domicílios fechados maior.

- Esse é um fenômeno que acontece em Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador. Há menos pessoas nos domícilios. É mais difícil encontrar as pessoas em casa.

Para o demógrafo José Eustáquio Alves, professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence), ligada ao IBGE, é normal não se entrevistar moradores de todos os domicílios:

- Não vai se conseguir entrevistar 100% da população. Isso acontece em qualquer lugar do mundo. Para verificar se o erro do grau de cobertura é alto, há uma pesquisa paralela ao Censo, mas que só será divulgado quando os resultados da consulta do censo saírem, no ano que vem.

Uma margem aceitável é entre 1% e 3%, o que já significaria no Brasil até dois milhões de domicílios. Nos últimos censos, segundo Alves, o Brasil tem ficado abaixo dos países em desenvolvimento.