Título: Governo de Cuba acaba com os impostos sobre remessas de dólares
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Fonte: O Globo, 27/12/2010, O Mundo, p. 28

Decisão beneficia pessoas que recebem ajuda de parentes no exterior

AS CHAMADAS Damas de Branco rezam pela libertação de dissidentes políticos, numa missa em Havana

HAVANA. Cuba acabou com os 10% do chamado "imposto revolucionário" que cobrava sobre as remessas de dólares que os cubanos recebem do exterior. Segundo uma reportagem do jornal espanhol "El País", a medida beneficiará centenas de milhares de moradores da ilha que têm parentes nos Estados Unidos e permitirá às autoridades ter um controle maior sobre a entrada de remessas, já que o mercado negro de envio de dólares deve perder espaço.

A medida entrou em vigor na segunda-feira passada, mas não se tornou pública até a última quinta-feira, quando a Agência de Controle de Ativos Estrangeiros, do Departamento do Tesouro de EUA, emitiu um comunicado explicando que os escritórios da empresa americana Western Union na ilha poderão entregar pesos conversíveis (CUC) aos cubanos sem cobrar os 10% de imposto. Até agora, os cubanos recebiam o dinheiro pela Western Union em dólar e tinham que trocar por CUC ou pesos cubanos, pagando a taxa.

Para evitar as perdas impostas pela operação, muitos destinatários das remessas usavam serviços clandestinos de "mulas", que recebiam pequenas quantias para transportar o dinheiro às famílias em Cuba. Não se sabe exatamente quanto em dólares entra ao ano na ilha, mas estima-se que a quantia esteja entre US$800 milhões e US$1 bilhão. Embora não seja precisa, a soma é mais que toda a arrecadação de Cuba com o turismo e também supera a entrada de divisas com as exportações.

O imposto de 10% começou a ser aplicado no início da década, quando o embargo americano foi fortalecido pelo governo do ex-presidente dos EUA George W. Bush. O governo do atual presidente, Barack Obama, facilitou as transações com a ilha, eliminando restrições para o envio de dinheiro e as viagens de americanos a Cuba.

Ontem, parentes de presos políticos voltaram a protestar contra a decisão do governo de Cuba de protelar a libertação de vários deles. O grupo Damas de Branco, integrado por mulheres e mães de dissidentes presos, fez novamente manifestação durante uma missa em Havana.