Título: Balança comercial tem recorde histórico
Autor: Almeida, Cássia; Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 28/12/2010, Economia, p. 19

Alta de preços de produtos básicos ajuda Brasil a faturar mais com vendas externas, apesar do dólar fraco

BRASÍLIA. Contrariando todas as previsões feitas até agora e apesar do dólar estar encerrando o ano perto de R$1,70 (o que, em tese, reduz a competitividade dos produtos brasileiros), as exportações brasileiras estão batendo recorde histórico. Antes mesmo do fim do ano, elas já encostam nos US$200 bilhões. De acordo com os dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, ao fim da quarta semana de dezembro, as vendas externas acumularam US$197,999 bilhões, superando a meta de US$195 bilhões do próprio ministério e próxima à projeção de US$198 bilhões feita na semana passada pelo Banco Central. A alta de preços das commodities (minério de ferro, soja, etc) - que respondem por boa parte das vendas brasileiras - e a demanda maior de países emergentes favoreceram o Brasil.

De acordo com a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), as vendas podem chegar a US$202 bilhões no fim do ano. Os números de 2010 também superam o recorde histórico das exportações registrado em 2008, que alcançou US$197, 942 bilhões. Com o novo resultado, o crescimento das exportações brasileiras é de 29% em relação aos US$152,9 bilhões de 2009, acima dos 19% esperados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para a recuperação das vendas mundiais em 2010.

Seguindo a tendência durante o ano, as importações também crescem rapidamente e saltaram 42% no ano, somando US$179 bilhões, perto dos US$181 bilhões projetados pelo BC. Com isso, o saldo comercial brasileiro chega a US$18,8 bilhões, ultrapassando a estimativa de US$17 bilhões do BC e de US$16 bilhões do ministério.

Foi o resultado da balança comercial de dezembro que derrubou a maior parte das projeções. Nas quatro primeiras semanas do mês, o saldo comercial chegou a US$3,95 bilhões, o maior resultado mensal do ano. Só na semana passada, o superávit bateu US$2,174 bilhões.

Esse resultado se deve, principalmente, ao súbito crescimento das exportações de petróleo e derivados, que aumentaram duas vezes entre os dias 20 e 26 de dezembro. De acordo com o ministério, essas exportações alcançaram a média diária de US$303 milhões na quarta semana de dezembro, superando em três vezes a média de novembro, que foi de US$90,4 milhões.

- Ninguém, em sã consciência, poderia imaginar que em dezembro, que é tradicionalmente é um mês fraco, seria alcançado um superávit de US$4 bilhões - diz José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB.

Mas ele adverte que o resultado deve ser creditado mais ao aquecimento externo do que a ações adotadas pelo governo brasileiro. No ano, as vendas de minérios e a valorização do preço do insumo foram as principais responsáveis pelo aumento das exportações.

- O Brasil acompanhou de camarote o mundo crescer e as exportações de minério de ferro dispararem - diz Castro.

Para o Ministério do Desenvolvimento, o desafio brasileiro será fazer as exportações crescerem pelo menos 12% em 2011, contra expansão das vendas globais de 9%, o que elevaria a fatia do mercado brasileiro de 1,26% para 1,3%. Segundo o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, 2011 ainda será um ano difícil. O Banco Central, porém, projeta US$235 bilhões em exportações, enquanto a AEB aposta em um resultado de US$226 bilhões.