Título: Dilma chama Gabrielli, que deve ficar na Petrobras
Autor: Vasconcelos,Adriana ; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 29/12/2010, O País, p. 4
Presidente eleita já escolhe o segundo escalão com aliados e sinaliza que agora deve priorizar critérios ténicos
BRASÍLIA. A quatro dias de sua posse, a presidente eleita, Dilma Rousseff, tenta avançar nas nomeações para o segundo escalão de seu governo. Nas conversas que manteve ontem com vários de seus futuros ministros na sede do governo de transição, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), Dilma sinalizou que não pretende fazer agora as mesmas concessões que fez durante as indicações para o primeiro escalão, o que poderá frustrar ainda mais os partidos da base aliada. A futura presidente pretende priorizar nesta fase as indicações técnicas, segundo disse ontem a seus auxiliares.
Ontem, a presidente eleita chamou a Brasília o presidente da Petrobras, Sergio Gabrielli. Os dois conversaram por cerca de duas horas, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde funciona o governo de transição, para acertar detalhes da permanência dele no mesmo posto a partir de domingo. O presidente Lula já havia sugerido a Dilma, desde o início da transição de governo, que Gabrielli continuasse no cargo para participar da criação da nova estatal do pré-sal.
Disposta a ter uma retaguarda qualificada, especialmente nos ministérios em que teve de aceitar indicações políticas dos partidos da base governista, Dilma estaria se recusando agora a nomear pessoas sem experiência e de fora da área de atuação. Umas das preocupações manifestadas ontem pela presidente eleita teria sido em relação à composição da Câmara de Comércio Exterior (Camex), órgão considerado estratégico para o estímulo das exportações brasileiras e o equilíbrio na balança comercial.
Dentro da estratégia traçada pela presidente eleita, o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, e o futuro ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, ficaram incumbidos de filtrar e barrar as indicações para o segundo escalão, de forma que atendam às exigências de Dilma. Os dois estariam servindo de anteparo para a futura presidente neste momento.
Dilma tem conversado pessoalmente e por telefone com os futuros ministros para saber como está a formação das equipes e evitar "surpresas" no futuro.
Preocupação especial com os Correios
Ontem, por exemplo, a presidente eleita se reuniu com os futuros ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo; das Comunicações, Paulo Bernardo; da Saúde, Alexandre Padilha; do Planejamento, Miriam Belchior; e da Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel. Dilma quer saber dos futuros ministros sobre as dificuldades para formação das equipes, quem são os escolhidos e tem oferecido ajuda na montagem do segundo escalão dos ministérios.
Alguns órgãos têm preocupado particularmente a presidente eleita. Por exemplo, os Correios, que durante o governo Lula foram motivo de disputa política entre o PT e o PMDB. A estatal esteve no centro do escândalo que derrubou a então ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, acusada de tráfico de influência no governo. A presidente escalou Paulo Bernardo para administrar a crise nos Correios.
No Ministério da Saúde, a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), que cuida de saneamento básico em cidades menores e esteve no centro de denúncias no governo Lula, é outro alvo de disputas políticas.
O PMDB brigou durante o segundo mandato de Lula para manter o controle da Funasa, mas agora a tendência é que o comando do órgão seja entregue a técnicos. Alvo de cobiça, o comando da Polícia Federal deverá ser entregue a um profissional de seu próprio quadro.