Título: Quartiero foi plantar arroz em Marajó
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 29/12/2010, O País, p. 12

Segundo o Incra, fazendeiro polêmico teria adquirido terras de forma irregular

BRASÍLIA. O fazendeiro Paulo César Quartiero, conhecido por suas plantações de arroz na reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, transformou-se em motivo de dor de cabeça para as autoridades do Pará. Segundo o Incra, Quartiero, eleito deputado federal por Roraima, teria adquirido e registrado terras públicas de forma irregular.

O próprio Quartiero disse ter comprado 12 mil hectares na Ilha de Marajó, para destinar à rizicultura. E afirmou que já plantou arroz na propriedade. O Incra está preocupado com o eventual desalojamento da população ribeirinha e quilombola que o cultivo provocará.

As autoridades desconfiam que o tamanho da área obtida por Quartiero seja ainda maior. Já há uma força-tarefa no estado para levantar as propriedades do fazendeiro nos cartórios da região. Participam da operação o Incra, o Ministério Público, a Secretaria de Patrimônio da União (SPU), Advocacia Geral da União (AGU) e a Defensoria Pública da União.

Segundo o superintendente do Incra em Belém, Elielson Silva, para uma pessoa registrar uma área superior a 2.500 hectares, é necessário obter autorização do Congresso Nacional.

- Tenho certeza de que o senhor Paulo César Quartiero não tem essa autorização. Quando nosso levantamento estiver concluído, vamos tomar providências - afirma.

As autoridades suspeitam que Quartiero seja dono de 30% da área do município de Cachoeira do Arari, em Marajó. E que ele tenha comprado terras de ocupação tradicional de quilombolas no município vizinho, Salvaterra.

- Atuaremos no sentido de evitar que ocorra a expulsão dessas populações tradicionais que estão instaladas no arquipélago de Marajó - diz o superintendente do Incra em Belém, Elielson Silva.

Segundo Elielson, boa parte das terras de Marajó são da União. Há um plano de desenvolvimento sustentável da região que prioriza a preservação das comunidades locais.

- A presença dele já está causando conflito e provocando danos ambientais. Não é esse modelo de desenvolvimento que o governo federal concebeu para a região - afirma Elielson.

"O Incra só mente, essa é mais uma mentira"

O fazendeiro afirmou que as terras compradas não são públicas. Segundo ele, a ocupação da ilha é secular e não existem mais terras da União por lá.

- O Incra só mente, essa é mais uma mentira. Quem quer produzir no Brasil e ter possibilidade de sucesso é perseguido pelo Incra, que quer inviabilizar qualquer tentativa de progresso na região. Marajó tem o pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do país, e o governo nunca fez nada. Será que não estou ajudando? Na minha opinião, tem que extinguir esse Incra, que não presta para nada, é uma fonte de corrupção - protesta ele.

Perguntado sobre o impacto da rizicultura na região, o fazendeiro foi irônico.

- É um latifúndio extraordinário que afastou os ribeirinhos e prejudicou o meio ambiente. A senhora já sabe, sou invasor de terras públicas e prejudico o meio ambiente. Não estamos matando ninguém, não estamos aleijando ninguém, não estamos matando velhinhas. Estamos levando renda e emprego para uma região extremamente carente - disse Quartiero.