Título: Mantega promete poupar além da meta de superávit no ano que vem
Autor: Beck, Martha
Fonte: O Globo, 31/12/2010, Economia, p. 26

Ministro diz que, com isso, será possível fazer desonerações de impostos

BRASÍLIA. Num esforço para começar o governo Dilma Rousseff com sinais positivos, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que a equipe econômica vai poupar além da meta de superávit primário em 2011 e poderá usar esses recursos para fazer desonerações. Segundo ele, a meta - que foi fixada em valores nominais e equivale hoje a 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB) - será integralmente cumprida e ainda restará uma sobra. Em 2010, a meta não foi cumprida.

- Posso garantir que, no ano que vem, estaremos cumprindo o primário estabelecido e deveremos até ter um poupança adicional. Ela poderá ser colocada no Fundo Soberano ou usada em desonerações (corte de impostos) que devemos fazer no ano que vem - afirmou o ministro da Fazenda.

Mantega não especificou quais áreas serão beneficiadas. A equipe econômica enfrenta pressões por desonerações em diversos segmentos, mas a medida que é considerada pelos técnicos como mais urgente é a redução dos custos sobre a folha de pagamento das empresas. Ela é uma forma de reduzir os gastos do setor produtivo com mão de obra e dar mais competitividade à indústria nacional, especialmente num momento em que o câmbio está desfavorável.

O ministro disse ainda que, a partir de janeiro, o governo vai adotar medidas na área comercial para minimizar os efeitos da forte valorização do real em relação ao dólar. A moeda americana fechou 2010 cotada a R$1,66, o que representa uma queda de 4,3% no ano. Segundo Mantega, esse comportamento de queda, que se agravou nos últimos dias, está dentro de uma faixa moderada:

- O dólar sofreu novas desvalorizações nos últimos dias, não só aqui, mas no mundo todo. Além disso, temos, no final do ano, muito fechamento de posições, então, é um momento atípico. Mas o câmbio está oscilando dentro de uma faixa moderada. Eu diria que a volatilidade diminuiu bastante. Mas essa questão será enfrentada no próximo governo, a partir de janeiro, com outras medidas que vamos tomar na área comercial.

Redução de gastos e limitação de novas despesas

O ministro afirmou que a equipe econômica vai conseguir fazer um primário elevado no ano que vem graças a uma redução de gastos e também à limitação de novas despesas. Essa estratégia, segundo Mantega, permitirá que a relação dívida/PIB mantenha sua trajetória de queda. Ele destacou que ela deve encerrar 2011 abaixo de 38%. Este ano, o percentual deve ficar em torno de 40%.

Em 2010, o ministro também havia assumido o compromisso de uma meta cheia de superávit primário, mas já admitiu que isso não será possível. Apesar de o governo ter feito uma série de manobras fiscais e retirado a Eletrobras da meta fiscal - que fez com que ela caísse de 3,3% para 3,1% do PIB - a equipe econômica terá que utilizar o Projeto Piloto de Investimentos (PPI) e abater da conta das despesas os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Só assim será possível fechar o ano no azul.