Título: Um ano de recordes na economia
Autor: Rodrigues, Luciana
Fonte: O Globo, 31/12/2010, Economia, p. 27

País deve crescer perto de 8%. Petrobras faz megacapitalização e BP tem o maior vazamento. iPad vira eletrônico mais vendido

Passada a ressaca do tsunami financeiro de 2008/2009, o ano de 2010 viu o mundo econômico virar de ponta cabeça e bater diferentes recordes. No pós-crise, a retomada, dessa vez, veio dos emergentes, enquanto os países ricos ainda patinam no crescimento medíocre. Marcas gigantes tiveram sua credibilidade arruinada, por descaso com os consumidores ou com o meio ambiente. Novas tecnologias criaram febres de consumo e mudaram a maneira como as pessoas compram e se relacionam.

No Brasil, o ano foi de passos largos. O país vai fechar 2010 com expansão do PIB próxima de 8%, a maior desde 1986. O desemprego, abaixo de 6%, está no menor nível em oito anos. Mas ficará de herança para 2011 a inflação em alta e uma piora na situação fiscal.

Empresas e nomes-chave da economia brasileira também deram lances ousados. O empresário Eike Batista, dono de uma fortuna estimada em US$27 bilhões, foi alçado ao posto de oitavo homem mais rico do mundo em 2010 - e, claro, o mais endinheirado do Brasil. Eike investe nos quatro cantos do Rio: com usinas térmicas, estaleiro e siderúrgica no Porto do Açu, no Norte Fluminense; em petróleo; e também no Porto Sudeste, em Itaguaí. Na capital, comprou o histórico Hotel Glória, que deve reabrir no fim de 2011.

O ano foi de troca-troca na telefonia. A Portugal Telecom comprou 22,4% da Oi depois de vender sua participação na Vivo para os espanhóis da Telefónica. Outros dois gigantes, mas do setor bancário, também se uniram: Banco do Brasil e Bradesco fizeram parcerias em cartões de crédito, compartilhamento de terminais eletrônicos, seguro odontológico e investimentos na África.

Foi também em 2010 que a Petrobras deu seu passo mais polêmico. Para participar da exploração do pré-sal, a estatal fez a maior capitalização da História, levantando R$120 bilhões. A operação recorde ajudou a engordar os cofres públicos em R$31,9 bilhões, numa operação triangular com o BNDES. O marco regulatório do pré-sal foi aprovado aos solavancos. Em março, 150 mil pessoas foram às ruas no Centro do Rio em protesto contra a Emenda Ibsen, que depois virou Emenda Simon, e que retiraria R$7 bilhões em royalties do estado. Em dezembro, a emenda foi vetada pelo presidente Lula.

Para a indústria petrolífera, 2010 entrará para a História como o ano do maior desastre ambiental do setor. A explosão de uma plataforma da BP, no Golfo do México derramou por três meses 4,9 milhões de barris de petróleo no mar. Se com a BP o acidente foi ambiental, outra gigante, a Toyota, viu sua reputação ir à lona depois de uma série de recalls. Foram 7 milhões de automóveis só este ano.

No Brasil, o escândalo ficou por conta do PanAmericano, banco do Grupo Silvio Santos que recebeu um socorro de R$2,5 bilhões após fraudes em seu balanço terem provocado um rombo maior do que o seu patrimônio.

Nada que arranhasse, porém, a solidez do sistema financeiro brasileiro. O Brasil termina 2010 tendo à frente do Banco Central o mais longevo presidente da instituição, Henrique Meirelles, que deixa o cargo hoje. Garantida a estabilidade e retomado o crescimento após a crise mundial de 2008/2009, o país, a exemplo de outros emergentes, está entre os que ditam o dinamismo econômico global.

Em 2010, a China superou o Japão e se tornou o segundo maior PIB do planeta, atrás apenas dos EUA. Mas, enquanto os americanos amargam crescimento medíocre e desemprego recorde, os chineses agora tentam frear o ímpeto de seus consumidores. E, pela primeira vez desde a abertura econômica, o país viveu uma onda de greves e protestos de trabalhadores - que incluíram até 30 tentativas de suicídio entre operários da Foxconn.

Na Europa, os protestos foram contra os cortes de gastos dos governos. Manifestações reuniram até 3 milhões de franceses nas ruas contra a reforma da previdência do país. Na Grécia, três pessoas morreram num incêndio provocado por coquetéis molotov atirados por manifestantes.

Com os ricos em crise, os emergentes ganharam mais voz no FMI, mas o novo mapa do crescimento global não está sendo desenhado sem atritos. A guerra cambial ganhou manchetes, com americanos e europeus reclamando da moeda chinesa e o Brasil se queixando que também os EUA empurraram o dólar para baixo. Por aqui, o real forte garantiu a ceia farta de importados no Natal e provocou uma inversão nos preços, com o filé mignon custando mais que o bacalhau - acima de R$60 o corte nobre da carne, contra menos de R$40 para o pescado.

No mundo, a vedete do consumo foi o iPad: 4,5 milhões foram vendidos nos três primeiros meses após o lançamento, içando o aparelho ao posto de eletrônico com mais rápida adoção entre os consumidores. Novos aparelhos, novas ferramentas de consumo. Em 2010, os sites de compras coletivas caíram no gosto popular. Mudou a forma de comprar e também de se relacionar na internet: as redes sociais, com destaque para Twitter e Facebook, vieram para ficar.