Título: Construção da paz
Autor: McConnell, Jack
Fonte: Correio Braziliense, 13/07/2009, Opinião, p. 13

Membro do parlamento escocês, representante especial do primeiro-ministro para Mecanismos de Resolução de Conflitos. Foi primeiro-ministro da Escócia

As vidas de inúmeras famílias são devastadas por conflitos e suas consequências. Estima-se que 1 bilhão de pessoas, sendo cerca de 340 milhões entre os mais pobres do mundo, vivam sob risco de instabilidade, sem segurança básica e governança estável. Em 2010, metade da população mais pobre do mundo poderá estar vivendo em situações de conflito. E o que é pior, cerca de 30% dos acordos de paz não chegam a cinco anos.

Nosso senso comum de humanidade exige que trabalhemos para reduzir o sofrimento humano causado por conflitos e suas consequências. Em outubro de 2008, o primeiro-ministro Gordon Brown convidou-me a ser seu representante especial para Mecanismos de Resolução de Conflitos. Desde então, trabalho para ampliar o apoio internacional àqueles que enfrentam situações de conflito.

Encontro-me no Brasil agora para discutir as experiências do país em tais questões e como podemos trabalhar juntos. Como potência global de crescente importância, o Brasil tem demonstrado sério comprometimento com os esforços internacionais de manutenção e construção da paz. O país já é parceiro estratégico das Operações de Manutenção da Paz das Nações Unidas, especialmente no Haiti. Também liderou uma estratégia de construção da paz na Guiné Bissau, ajudando o país a caminhar em direção à estabilidade e estabelecer bases mais sólidas para o desenvolvimento.

Em um mundo cada vez mais interdependente, somos todos afetados pelos conflitos e a insegurança. Precisamos de um sistema internacional que possa ajudar a prevenir e solucionar conflitos e, então, trabalhar pela construção da paz. O que temos hoje ainda não está funcionando bem o suficiente. Espero que o Reino Unido e o Brasil possam trabalhar juntos para melhorar e reforçar os mecanismos internacionais e garantir que tenham um desempenho efetivo. Há três áreas nas quais precisamos progredir.

Em primeiro lugar, manutenção da paz. Em janeiro, o Reino Unido e a França lançaram uma iniciativa para proporcionar operações de manutenção de paz mais efetivas. Queremos melhor supervisão estratégica, assegurando que os mandatos sejam realistas e levem em consideração as preocupações de países que contribuem com suas tropas, como o Brasil. As lições aprendidas durante essas operações devem ser internalizadas e usadas para melhorar futuras operações de manutenção de paz. Gostaríamos de contar com o Brasil para levar isso adiante.

Em segundo lugar, a construção da paz ¿ o trabalho para proporcionar segurança e justiça, impulsionar a recuperação econômica, reconstruir a administração pública e oferecer serviços essenciais. Essas atividades devem responder às prioridades nacionais e estimular a capacitação nacional. E precisamos fazer isso rapidamente, aproveitando a oportunidade criada pelo momento de paz.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, acaba de publicar importante relatório que descreve qual deve ser a abordagem e configuração global do sistema da ONU para construir a paz localmente. Esperamos que o Reino Unido e o Brasil, juntamente com outros parceiros internacionais estratégicos, trabalhem juntos para colocar essas propostas em prática.

Em terceiro lugar, acreditamos que a Comissão de Construção da Paz (PBC), sediada na ONU, pode fornecer um mecanismo fundamental para acordar uma abordagem internacional comum que ajude a unir iniciativas de construção e manutenção da paz. Ela reúne todo o apoio internacional em prol de um determinado país para fornecer aconselhamento sobre prioridades estratégicas e coordenar ações. Tenho grande interesse em ouvir sobre a experiência brasileira na presidência da PBC para a Guiné Bissau.

Sei que os brasileiros desejam que sua contribuição para os esforços internacionais seja a mais efetiva possível. Portanto, espero que o Reino Unido e o Brasil possam trabalhar juntos no decorrer do próximo ano para impulsionar o progresso rápido em direção a um sistema internacional que tenha mais sucesso em auxiliar aqueles que sofrem com a instabilidade e conflitos. Em nome dos milhões de famintos, desabrigados e feridos que precisam de nossa ajuda, devemos encarar esse desafio.