Título: Dilma prometerá erradicar miséria e conter gastos
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 01/01/2011, O País, p. 4

Em seu discurso de posse, a presidente que assume sob a sombra de Lula evitará falar em continuísmo

BRASÍLIA. Primeira mulher a tomar posse como presidente da República, Dilma Rousseff (PT) assume o cargo hoje prometendo erradicar a pobreza extrema no país como sua principal meta de governo. Além da mensagem social, ela assumirá o compromisso público de manter o controle de gastos e evitar o risco inflacionário, em uma condução responsável da economia. Mas decidiu descartar de seu pronunciamento qualquer referência ao termo ajuste fiscal.

A mensagem de Dilma terá dois momentos distintos: um mais formal, num longo discurso de 45 minutos no Congresso, e outro mais emotivo, que será feito no parlatório do Palácio do Planalto. Mas nos dois discursos Dilma irá estabelecer as principais diretrizes e compromissos de seu governo. Em sua fala, haverá o cuidado para não usar a palavra continuísmo.

Segundo interlocutores, Dilma agradecerá a ousadia do povo de ter primeiro eleito um operário, numa referência direta ao ex-presidente Lula. E, depois, por ter eleito uma mulher. Com isso, pretende enfatizar a novidade histórica que foi a sua eleição.

Na parte econômica de sua fala, Dilma deve voltar a formular um discurso de que é preciso incorporar 190 milhões de brasileiros às riquezas do país. Ela passará a mensagem que esse é um processo que exigirá do novo governo o que foi feito por Lula: a criação de empregos.

Ela voltará a adotar um tom de responsabilidade na condução da economia brasileira, com a rejeição enfática de qualquer possibilidade de gasto acima do sustentável. Mas Dilma voltará a explicitar que não aceitará que qualquer ajuste atinja programas sociais e investimentos prioritários. Fará a promessa de esforço por uma reforma tributária.

Discurso vai tranquilizar mercado financeiro

Num recado para tranquilizar o mercado financeiro, Dilma voltará a assumir compromisso com a estabilidade da economia e manutenção das regras econômicas. E fará uma citação especial ao novo momento econômico brasileiro, com a exploração do pré-sal. Neste momento, deve ressaltar a necessidade de assegurar ao Brasil os benefícios sociais dessa nova riqueza.

Mas o ponto forte da fala de Dilma será a mensagem social. Ela afirmará que o país terá como meta a erradicação da miséria. E acrescentar que a visão de país desenvolvido do projeto dela será incluir e apoiar os pobres. Nesse momento, Dilma deve citar com ênfase a herança recebida pelo presidente Lula. A petista falará que é possível erradicar a pobreza porque "nós conseguimos" tirar 28 milhões de brasileiros da situação de miséria.

Durante a campanha, Dilma chegou a afirmar que sua proposta é tirar da miséria todos os 21,5 milhões de brasileiros, citando a estimativa do IBGE em relação ao número de pessoas em condição de pobreza extrema. Mesmo assim, ao ser questionada qual o prazo para cumprir a meta, Dilma foi vaga ao afirmar que seria o mais rápido possível, sem se comprometer com uma data.

Entre as áreas citadas por Dilma estarão como principais desafios as áreas de segurança pública e combate ao crime organizado e ao tráfico de drogas, da saúde, e da inovação tecnológica. No discurso, haverá um grande foco na questão educacional, principalmente na inserção do país como um novo patamar de desenvolvimento.

Fará ainda uma menção especial à importância dos eventos esportivos que ocorrerão no Brasil: a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Nesse ponto de sua fala, Dilma destacará que os dois eventos terão importância significativa para impulsionar a infraestrutura no país, já que haverá investimento significativo nas cidades brasileiras.

Na parte política que fará no seu discurso no Congresso Nacional, Dilma irá ressaltar que fará um governo amplo, com todos os segmentos. E que terá uma relação republicana com o Legislativo. Voltará a reafirmar o seu compromisso com a liberdade de imprensa e liberdade religiosa, como fez no discurso no dia 31 de outubro, assim que foi anunciado o resultado da eleição. Assumirá ainda o compromisso de zelar pela Constituição brasileira, como dever maior da presidência da República.

No segundo discurso, Dilma fará uma saudação ao povo, com mais emoção, no Parlatório do Planalto, em frente à Praça dos Três Poderes. Neste discurso, ela deve lembrar da prisão e citar as amigas ali presentes. Um grupo de 11 antigas militantes de esquerda e ex-companheiras de cela de Dilma na ditadura militar está entre os convidados especiais da presidente e acompanhará sua posse no Palácio do Planalto. Juntas com Dilma, elas estiveram presas na década de 70, no Presídio Tiradentes, em São Paulo. Dilma também vai lembrar do vice José Alencar. Fará uma homenagem especial, ao lembrar que por recomendação médica, Alencar não poderá descer a rampa do Palácio do Planalto com Lula, como havia prometido. Também haverá um destaque especial na sua fala de agradecimento ao ex-presidente Lula, e de reconhecimento de sua liderança. Dilma dirá que Lula não estará distante do seu povo e que sempre contará com ele no seu governo.

COLABOROU: Adriana Vasconcelos