Título: A partir de hoje, desafios em diferentes áreas
Autor: Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 01/01/2011, O País, p. 5

Lula deixa para Dilma um país que precisa conter gastos, elevar investimentos, além de melhorar saúde e educação

BRASÍLIA. O jogo começou, e a presidente eleita, Dilma Rousseff, corre contra o tempo para manter o país no rumo do crescimento sustentado. Na visão de analistas, o novo governo precisará emitir sinais imediatos e adotar medidas em curtíssimo prazo para recuperar credibilidade e manter a economia nos trilhos, afastando o fantasma da inflação e assegurando mais investimentos para o país, passaporte indispensável para o sucesso da atual gestão.

Especialistas ouvidos pelo GLOBO consideram que 2011 deve começar com medidas restritivas na área fiscal, não apenas para o equilíbrio das contas públicas, mas para sinalizar uma nova postura que diferencie a gestão de Dilma da última fase do governo Lula:

- Além de ser o melhor momento para fazer o ajuste, é crucial esse esforço nos primeiros dias, pelos sinais emitidos, um esforço emblemático para que não seja necessário um aumento tão grande da taxa de juros - afirma o economista Octavio de Barros, diretor de Pesquisa e Estudos Econômicos do Bradesco.

O ideal, destaca, é que os sinais na área fiscal sejam de longo prazo, inaugurando uma mudança de atitude.

- A sinalização de que os gastos correntes vão crescer abaixo do crescimento nominal do PIB é crucial, é a forma de aumentar o investimento público - destaca.

Para Alexandre Marinis, da consultoria Mosaico Economia Política, o desafio iminente da nova presidente é sustentar o crescimento econômico por meio de investimentos públicos e privados.

- Investimento é a palavra-chave. O impulso que o consumo deu ao crescimento tende a desacelerar e o governo vai ter que estimular o investimento, abrir espaço (no Orçamento) para aumento do investimento público e incentivar o privado - afirma Marinis.

O economista vê pouco espaço no setor público para um crescimento substancial dos investimentos, já que, no governo Lula, o Orçamento ficou muito comprometido com despesas permanentes que precisam ser honradas pela nova gestão:

- O espaço do Orçamento que poderia ir para investimentos foi ocupado com gastos correntes, contratação agressiva de servidores e reajuste para o funcionalismo. O governo poderia ter dobrado os investimentos públicos, de 1 % para 2 % do PIB, mas desperdiçou uma oportunidade rara - frisa Marinis.

Na visão de Luis Otávio Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, o desafio imediato da presidente Dilma Rousseff é restabelecer a credibilidade da política econômica, especialmente na área fiscal, com medidas de contenção críveis.

Na avaliação dele, 2010 foi um ano muito confuso em relação às sinalizações da política econômica, com ruídos na comunicação entre o Banco Central e o mercado em relação à política monetária, descalabros na política fiscal e insegurança no mercado em relação ao comprometimento do governo Lula e do PT com a austeridade fiscal:

- A primeira tarefa de Dilma será adquirir credibilidade. Uma vez conquistada essa credibilidade, o mercado dará um voto de confiança (ao governo) que pode ajudar bastante a política econômica em um ano ainda bastante volátil - afirma Leal.

A formalização de um esforço fiscal, mesmo que não seja radical, será suficiente para atender as expectativas do mercado, na opinião do economista Felipe Salto, da Consultoria Tendências.

- Um esforço significativo no momento é improvável, mas o ajuste fiscal, mesmo que mínimo, precisa ser formalizado pelo novo governo - diz o economista.

De modo geral, os especialistas estão otimistas em relação à capacidade da presidente Dilma de adotar as medidas necessárias para manter a economia estabilizada e o país crescendo fortemente. O reajuste do salário mínimo para R$540 foi recebido como uma sinalização positiva nesse sentido.

- O salário mínimo de R$540 é um passo adiante, uma coisa concreta. Terá impacto menor nas contas e respeitou-se a regra de reajuste. Para essa equipe econômica, começar o ano respeitando uma regra pré-estabelecida é muito importante para readquirir credibilidade - afirma Leal.

Octavio de Barros, do Bradesco, acredita que o governo Dilma Rousseff tem todas as condições de ser mais austero, mais racional e mais pragmático do que o governo Lula.

- Do ponto de vista macroeconômico será superior aos dois últimos anos do governo Lula - prevê.