Título: Respeito à liberdade
Autor: SALES, D. EUGENIO
Fonte: O Globo, 01/01/2011, Opinião, p. 7

A 1º de janeiro de 2011 celebramos o 44º Dia Mundial da Paz. Tais comemorações tiveram início em 1968, instituídas pelo Papa Paulo VI, com o objetivo educacional, a saber, dentro de uma perspectiva religiosa, servir de fundamento à concórdia entre os homens. Para este ano de 2011, foi escolhido o tema: ¿Liberdade religiosa, caminho para a paz¿.

Considero salutar apresentar alguns trechos dessa mensagem do Papa Bento XVI para semear nos corações de todos o desejo de uma reflexão maior acerca do que se verifica no mundo quanto à limitação ou negação da liberdade, de discriminação, marginalização, perseguição e violências, principalmente no âmbito da fé.

O santo padre começa sua mensagem com uma triste constatação: ¿(...) em algumas regiões do mundo, não é possível professar e exprimir livremente a própria religião sem pôr em risco a vida e a liberdade pessoal. Noutras regiões, há formas mais silenciosas e sofisticadas de preconceito e oposição contra os crentes e os símbolos religiosos. Os cristãos são, atualmente, o grupo religioso que padece o maior número de perseguições devido à própria fé¿ (nº 1). As palavras do Papa nos fazem refletir sobre algo que nunca deveria existir, pois é inconcebível que se suprima a fé para ser um cidadão ativo. Não se pode permitir isso, afirma o Papa, ¿porque constitui uma ofensa a Deus e à dignidade humana; além disso, é uma ameaça à segurança e à paz e impede a realização de um desenvolvimento humano autêntico e integral¿ (idem).

São Paulo escreve: ¿Irmãos, fostes chamados à liberdade¿ (Gl 5,1). Ela nos caracteriza como filhos do Altíssimo. Marca nossa condição de seres humanos. Aliás, na época atual, cresce a consciência dessa qualidade básica, sem a qual nós não nos realizaremos como indivíduos ou membros de uma comunidade.

No caso da religião, segundo Bento XVI, ¿entre os direitos e as liberdades fundamentais radicados na dignidade da pessoa, a liberdade religiosa goza de um estatuto especial. Quando se reconhece a liberdade religiosa, a dignidade da pessoa humana é respeitada na sua raiz e reforça-se a índole e as instituições dos povos. Pelo contrário (...), acabam ameaçadas a justiça e a paz, que se apoiam sobre a reta ordem social construída à luz da suma verdade e do sumo bem¿ (nº 5).

O Concílio Vaticano II nos ensina que Deus quis ¿deixar ao homem o poder de decidir¿, para que destarte procurasse espontaneamente seu Criador, a Ele adira livremente e chegue à perfeição plena e feliz. E acrescenta que o homem consegue essa dignidade quando, liberado de todo cativeiro, caminha para seu fim pela escolha livre do bem.

Na celebração do Dia Mundial da Paz, verifiquemos se a liberdade, no seu sentido verdadeiro, está sendo respeitada por nós. Isto é indispensável à paz.

D. EUGENIO SALES é cardeal-arcebispo emérito da Arquidiocese do Rio.