Título: Alckmin assume de olho em desafios do PSDB
Autor: Jr., Gilberto Scofield
Fonte: O Globo, 01/01/2011, O País, p. 14

Aliado durante a campanha eleitoral, PMDB paulista não consegue representante no primeiro escalão do tucano

SÃO PAULO. O governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), toma posse hoje em uma cerimônia que começa às 10h na Assembleia Legislativa, na Zona Sul de São Paulo, e se estende depois do almoço para o Palácio dos Bandeirantes, onde será promovida uma festa para cinco mil convidados. Ele assume o cargo com preocupações políticas que vão bem além do trabalho de gerência do mais rico estado do país.

Alckmin terá três grandes estratégias, de acordo com assessores ligados ao político. A principal delas é usar o seu papel como uma das mais importantes lideranças tucanas do país para reescrever o programa do PSDB de olho na reestruturação do partido, na aproximação com suas bases e no seu papel de oposição assumida, porém não raivosa, ao governo federal.

"Há um consenso de que o partido precisa mudar"

De acordo com o deputado federal José Aníbal (SP), foram detectados pelo próprio PSDB os pontos fracos internos que impuseram a terceira derrota aos tucanos na briga pela Presidência da República com o PT.

- Há um consenso entre praticamente todos os tucanos que o partido precisa mudar. Alguns falam em refundação, outros em reestruturação, outros em simples mudanças. Mas o fato é que o partido sempre teve líderes com algumas dificuldades de convergência. Acho que ele será de grande valia nesse trabalho de construir pontes entre políticos de estilos diferentes, como Aécio Neves ou José Serra - afirmou, numa alusão aos dois nomes tucanos que vêm se confrontando desde a época em que o PSDB se preparava para escolher o candidato para disputar os eleições presidenciais.

A segunda estratégia é fazer oposição ao governo petista de Dilma Rousseff sem, no entanto, isolar o estado de São Paulo de parcerias com ministérios e instituições federais, incluindo o Palácio do Planalto.

E, por fim, Alckmin terá que acertar os ponteiros com o prefeito Gilberto Kassab (DEM) pelo controle da sucessão da Prefeitura de São Paulo nas eleições de 2012. Kassab e o tucano viram seu relacionamento desandar depois que o primeiro derrotou o segundo nas eleições para a Prefeitura de São Paulo em 2008 (com o apoio declarado de José Serra). Kassab não pode disputar a reeleição, mas aceita negociar um nome de consenso com o PSDB. Ainda assim, quer alguém que não o prejudique politicamente, já que está de olho nas eleições para o governo de São Paulo em 2014. A dúvida é se Alckmin estaria disposto a negociar um nome. Nas eleições de 2008, ele próprio decidiu concorrer à prefeitura sem o apoio majoritário do seu partido, mais uma vez desunido.

Por isso mesmo, dentro do ninho tucano, há quem diga que o papel conciliador de Alckmin não chega a ser exatamente fácil, já que o governador é considerado, juntamente com Aécio e Serra, um dos guerreiros da "luta de egos" no tucanato, como admitiu o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Um dos principais críticos da maneira desunida como o PSDB conduziu a campanha eleitoral para presidente ano passado, Fernando Henrique resumiu numa frase - dita numa entrevista à revista "Rolling Stone" - a situação do partido: "O PSDB precisa calçar as sandálias da humildade".

A julgar pela montagem de seu secretariado, o governador Geraldo Alckmin terá de fato que exercitar mais o seu espírito de convergência. Em um secretariado de 26 nomes que possui cinco deputados federais, dois deputados estaduais e alguns ex-deputados, Alckmin não trouxe para o primeiro escalão nenhum representante do PMDB paulista, que se afastou da direção nacional - aliada de Dilma Rousseff sob a batuta do vice-presidente Michel Temer - para apoiar sua candidatura em uma estratégia ousada do ex-governador Orestes Quércia.

A ausência do PMDB no governo paulista faz menos sentido ainda levando-se em consideração a nomeação do deputado federal Marcio França para a Secretaria de Turismo. França é do PSB, um dos partidos que trabalhou em favor da petista Dilma Rousseff na disputa presidencial.