Título: ONU: Gbagbo pode ir a tribunal internacional
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Fonte: O Globo, 01/01/2011, O Mundo, p. 28

Reino Unido apoia ação militar contra líder marfinense, ameaçado com julgamento por violação aos direitos humanos

ABIDJÃ. A pressão para que Laurent Gbagbo deixe a Presidência da Costa do Marfim foi reforçada ontem, com um lembrete da ONU ao governo marfinense de que as principais autoridades do país podem ser julgadas por violação de direitos humanos. Fazendo coro à ameaça, o chanceler britânico afirmou apoiar uma ação militar por parte das Nações Unidas caso o impasse político não seja resolvido de forma diplomática. Além disso, o Banco Mundial anunciou ter congelado o financiamento para Costa do Marfim, na esperança de inviabilizar financeiramente o governo de Gbagbo.

¿ Nunca mais chefes de Estado, e outros atores estatais, estarão certos de que podem cometer violações atrozes e se safar ¿ afirmou Navi Pillay, alta-comissária da ONU para os Direitos Humanos. ¿ O sistema de Justiça Internacional se desenvolveu nos últimos 15 anos e nos deu ferramentas que não tínhamos antes.

Novo premier diz que país está em situação de guerra

A declaração de Pillay ocorre no mesmo dia em que especialistas da ONU denunciaram violações aos direitos humanos na Costa do Marfim após as eleições presidenciais de 28 de novembro, e advertiram que a violência causada pelo impasse político pode levar a crimes contra a Humanidade. Segundo os especialistas, desaparecimentos forçados, detenções arbitrárias e execuções extrajudiciais e sumárias, assim como atos de violência sexual, podem ter ocorrido ou ainda acontecerem na Costa do Marfim. Um aliado de Alassane Ouattara ¿ reconhecido internacionalmente como o verdadeiro vencedor da eleição presidencial ¿ foi ainda mais longe, afirmando que o país já se encontra ¿numa situação de guerra civil¿.

¿ Isto é o que está em jogo: ou nós ajudamos a instalação da democracia na Costa do Marfim ou nós ficamos indiferentes e permitimos que a democracia seja assassinada ¿ afirmou Guillaume Soro, apontado por Ouattara como premier de seu governo, que atualmente ocupa um hotel protegido por 800 capacetes-azuis da ONU.

Franceses são aconselhados a deixar Costa do Marfim

O governo de Gbagbo voltou a ameaçar invadir o hotel de Ouattara caso o presidente eleito não deixasse o local até hoje. Apesar de privilegiar um acordo pelas vias diplomáticas, o chanceler britânico, William Hague, em entrevista à BBC, afirmou que o Reino Unido apoiaria qualquer tipo de ação militar das Nações Unidas para forçar a saída de Gbagbo do poder. Além disso, Hague afirmou que Londres não reconhece mais o embaixador apontado pelo atual governo para o país, Philippe Djangone-Bi. A ONU já afirmou que não poupará esforços para defender seus funcionários e os integrantes do novo governo, em caso de um ataque contra o Golf Hotel. Líderes da Comunidade Econômica da África Ocidental ¿ que farão nova visita ao país na segunda-feira, na esperança de fazer Gbagbo aceitar o resultado das eleições e deixar o cargo que ocupa desde 2000 ¿ também já ameaçaram com uma intervenção militar contra o governo dele.

Temendo que a situação provoque uma nova guerra civil, a França, ex-colonizadora da Costa do Marfim, pediu a seus cidadãos vivendo no país africano ¿ cerca de 14 mil pessoas ¿ que abandonem o território temporariamente, enquanto não houver solução para a crise.