Título: Chuva reduz o público, mas não a animação
Autor: Beck, Martha ; Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 02/01/2011, O País, p. 13

Trinta mil pessoas, em vez das 70 mil previstas, foram do país inteiro para comemorar posse de Dilma e se despedir de Lula BRASÍLIA. Para a festa da solenidade de posse da primeira presidente mulher do Brasil, eram esperadas 70 mil pessoas. Mas, com o dia chuvoso, o público que foi à Esplanada dos Ministérios foi bem menor. Apenas 30 mil compareceram, segundo estimativas da Polícia Militar. Mesmo assim, a animação de quem participou do evento foi grande. Nem mesmo a forte chuva que caiu no início da tarde - exatamente na hora em que o carro de Dilma percorria a Esplanada e se dirigia ao Congresso Nacional - desanimou as pessoas.

- Valeu a pena ficar nessa chuva. Deu para ver um pouquinho da Dilma. Não foi sacrifício nenhum - disse Maria Valadares, de 91 anos, que viajou do interior do Ceará a Brasília para a posse.

Edite Souza, de 74 anos, foi da Bahia para ver a primeira presidente mulher do país:

- Eu fiz questão de vir ver a posse da primeira mulher na Presidência do Brasil.

Entre os ambulantes, os que mais faturaram foram os que vendiam guarda-chuvas. Na hora da chuva forte, os preços chegaram a R$50. No início do dia, uma garoa já sinalizava a possibilidade de um temporal, mas o sol chegou a aparecer no fim da manhã, quando as pessoas começaram a usar os guarda-chuvas para se proteger do calor. No entanto, o temporal desabou na hora em que o carro de Dilma desfilava.

A maioria das pessoas usava adesivos com os nomes de Dilma e do ex-presidente Lula, e carregava bandeiras do PT. Também havia gente com máscaras de Dilma. O pernambucano Clédio de Sá mora em São Paulo, mas foi a Brasília de carona num caminhão em homenagem a Lula:

- Sou fã do Lula e votei na Dilma por causa dele.

- Gostei do governo do Lula, que fez muito pelos pobres, deu emprego. Estou esperando que a Dilma também faça um bom governo, porque sei que ela vai seguir o que ele mandar - disse o vendedor ambulante Raimundo Lacerda, que vendeu cerca de 80 faixas com o nome de Dilma, a R$2 cada.

Para as duas professoras aposentadas Iraci Luna e Célia Costa, que saíram de Recife para assistir à posse de Dilma, faltou mobilização:

- Houve falta de comunicação. Na posse de Lula, foi diferente - disse Iraci.

Já para quem foi à Praça dos Três Poderes, em frente ao Palácio do Planalto, o motivo da festa não era só a posse de Dilma Rousseff. Ali era o lugar estratégico para se despedir de Lula. Até mesmo quando a protagonista era Dilma, ouvia-se o coro "Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula".

Mar de guarda-chuvas na Praça dos Três Poderes

Havia um claro apelo do público pelos momentos de maior emoção com o ex-presidente Lula. Como era de se prever, a apoteose de ontem não ocorreu com a chegada de Dilma ao Palácio do Planalto, mas sim quando Lula fugiu ao cerimonial pela última vez, depois de oito anos no cargo, para ir ao encontro do público, mais uma vez dando enorme trabalho aos seus seguranças.

A chuva fez com que a Praça dos Três Poderes se transformasse num mar de guarda- chuvas, com centenas de manifestantes buscando todo tipo de abrigo.

Sob uma marquise onde se aglomeravam dezenas de pessoas em um dos vários espaços vazios na praça, a funcionária pública Izabel Delgado Ramos Campos, que foi ontem de Campinas junto com outras 47 pessoas, lamentava que a chuva tirasse um pouco o brilho da festa. Mas, de forma alguma, era motivo para fazer com que ela e seus companheiros perdessem o ânimo.

- É um momento muito importante. Ela (Dilma) é a primeira mulher que vai governar o Brasil e, principalmente, que vai dar sequência ao trabalho do Lula - afirmou ela.

"Gostamos de Dilma, mas amamos Lula"

No meio do público, personagens se destacavam, como o metalúrgico aposentado Célio Cândido Alves, de 67 anos, que levou um megafone para a praça e todo o tempo tentava esquentar o público e motivar os grupos a chegar mais perto do Palácio do Planalto.

- A despedida de Lula é triste, mas temos de cumprir a Constituição. Só de pensar que ele não vai estar amanhã no (Palácio do) Alvorada, fico com medo.

- Gostamos de Dilma, mas amamos Lula - resumiu Márcio José Gomes, 42 anos, que foi de Joinville (SC) sem largar a foto do ex-presidente, presenteada pelo próprio Lula em seu primeiro mandato.

Rosa Maria Bacaneli, de 62 anos, foi com outras 52 pessoas de Araçatuba (SP) com a certeza de que Lula continuará não apenas no imaginário, mas também agindo para fazer com que Dilma faça um bom governo.

- Claro que é importante comemorar a chegada da primeira mulher à Presidência. Quanto ao Lula, a gente não vai dar nenhum adeus, porque a gente sabe que ele vai estar todo o tempo com a gente. Sempre.