Título: Intimidade com Hillary e afagos de Chávez
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Fonte: O Globo, 02/01/2011, O País, p. 14

Dilma é cumprimentada por 11 chefes de Estado, entre eles os presidentes de Chile, Colômbia, Uruguai e Paraguai

BRASÍLIA. As autoridades estrangeiras que compareceram às solenidades de posse de Dilma Rousseff aproveitaram o cumprimento à nova presidente para sinalizar ou reafirmar seus laços com o Brasil. Surpreendendo a diplomacia brasileira, um dos mais calorosos encontros no salão do Palácio do Planalto foi com a secretária de Estado americana, Hillary Clinton. Efusiva, ela - que chegou atrasada e não esteve no Congresso Nacional - conversou longo tempo com Dilma e fez questão de tirar fotos com a brasileira, em meio a largos sorrisos.

O gesto foi especialmente destacado porque a diplomacia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva culpa Hillary pelo desfecho das negociações com o Irã, intermediadas pelo Brasil e a Turquia. Também há incômodo com os telegramas da diplomacia americana sobre o Brasil, divulgados recentemente pelo Wikileaks.

Encontros descontraídos com latino-americanos

Na solenidade, Dilma foi cumprimentada por 11 chefes de Estado - como o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas - e dez primeiros-ministros, além de Hillary Clinton. Dezenas de representantes de outros países de todos os continentes também prestaram homenagens à nova presidente brasileira.

A Coreia do Sul, por exemplo, enviou seu primeiro-ministro, Kim Hwang-sik, num sinal de que o país pretende reforçar sua relação com o Brasil. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, não veio, mas, numa escolha cheia de simbolismo, enviou o ministro da Defesa, Alain Juppé, à posse de Dilma - para a qual ficou a decisão sobre a compra dos caças da Força Aérea, na qual o Rafale francês era o favorito de Lula.

Os encontros foram descontraídos com os chefes de Estado latino-americanos. Imediatamente após Hillary, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, deu longo abraço em Dilma e conversou proximamente, travando contato físico com a presidente brasileira todo o tempo. Antes, no Congresso Nacional, Chávez exaltou a colega:

- Dilma é extraordinária. Eu sou feminista. As mulheres são melhores que os homens. Quando eu entregar o governo - não sei quando - gostaria que fosse para uma mulher. Dilma dará continuidade à força social do governo Lula.

Também foi longo o cumprimento do presidente do Uruguai, José Mujica, e de sua esposa, Lucía Topolansky, presidente do Senado do país vizinho, um dos parceiros de Mercosul. O trio trocou brincadeiras e abraços. Dilma também demorou-se longamente com o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, que está em tratamento contra um câncer - doença que a presidente brasileira combateu em 2009.

Os mandatários de Chile, Sebastián Piñera, e Colômbia, Juan Manuel Santos, também compareceram. As ausências mais marcantes na América do Sul foram as dos presidentes Evo Morales, da Bolívia, Rafael Corrêa, do Equador, e Cristina Kirchner, da Argentina, (que alegou motivos particulares para não comparecer à cerimônia).

Da Europa, as presenças mais notadas foram as do primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, e do príncipe de Astúrias, Felipe de Borbón, herdeiro do trono da Espanha. Mas foi com o primeiro-ministro da Bulgária, Boyco Borissov, que o cumprimento pareceu mais familiar. Dilma já havia se encontrado com ele dia 30. A presidente é filha de búlgaro.

Os convidados estrangeiros ficaram isolados em uma sala do Palácio do Planalto, com sofás, em um clima de informalidade. No Congresso, os presidentes estrangeiros ficaram no Plenário.