Título: Insatisfação com cargos ainda é dor de cabeça
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 02/01/2011, O País, p. 16

Dilma deve enfrentar descontentamento de partidos com formação do Ministério nos primeiros meses de governo

BRASÍLIA. Poucos dias antes de deixar o governo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma avaliação crítica da composição do primeiro escalão do governo da presidente Dilma Rousseff. Apesar de ter influenciado muito nas escolhas dos novos ministros, principalmente da equipe palaciana e econômica, Lula fez o seguinte diagnóstico: Dilma atendeu a todos os partidos, mas deixou todo mundo insatisfeito. Para Lula, isso pode ser fonte de grande dor de cabeça para Dilma nos primeiros meses de governo.

Mesmo os interlocutores mais próximos da nova presidente reconhecem que a composição do primeiro escalão deixou os partidos aliados e as várias tendências do próprio PT insatisfeitos. Oficialmente, a ordem é minimizar eventuais sequelas. Mas, se depender de Dilma, ela não fará muitas concessões políticas na montagem do segundo escalão.

- A presidente Dilma manteve a linha de continuidade. Foi uma renovação discreta. Mas sempre tem alguém insatisfeito. Governo de coalizão é um pouco assim. Mas, na hora em que o governo começa a funcionar, tudo fica normal, e acaba o berreiro - diz o ministro de Desenvolvimento, Fernando Pimentel, um dos interlocutores mais próximos de Dilma.

Equipe pode mudar no 2º ano

De forma reservada, a presidente reconhece que este foi o Ministério possível diante de tantas pressões. Isso significa que a nova equipe já tem prazo de validade. A expectativa é que a primeira reforma ministerial deva acontecer logo depois do primeiro ano de governo. Só então, Dilma poderá fazer um primeiro escalão mais próximo do seu perfil, já sem grande influência de Lula.

Ou seja, as insatisfações são tanto dos partidos aliados como de Dilma. Apesar do grande esforço, a presidente não conseguiu completar a cota de um terço de mulheres: das 37 pastas, apenas nove são ocupadas por ministras. A influência do próprio ex-presidente Lula também limitou a atuação de Dilma. Nada menos que 16 ministros do atual governo foram ministros ou assessores da gestão anterior.

Diante das limitações, Dilma decidiu pôr pessoas de confiança em cargos estratégicos para que estejam preparados para assumir novos postos. O secretário-executivo da Fazenda, Nelson Barbosa, por exemplo, é uma opção para eventuais ministérios econômicos. Já a diretora de Gás e Energia da Petrobras, Maria das Graças Foster, é cotada para assumir o comando da estatal, quando o atual presidente, José Sérgio Gabrielli, for deslocado para uma secretaria no governo da Bahia. O próprio Pimentel é visto como uma opção.

Entre os que já assumem com prazo curto de duração, o caso mais evidente é o do ministro do Turismo, Pedro Novais, do PMDB. Antes mesmo do escândalo com o fato de ele ter apresentado uma nota de motel para reembolso de verba indenizatória da Câmara, havia um desconforto com a indicação do PMDB para a pasta.

Os aliados também desejam ter mais espaço. O PMDB decidiu evitar reação imediata, mas deve demonstrar força no Congresso Nacional para pressionar por mudanças. No próprio PT, ainda há insatisfações. A tendência Articulação de Esquerda não se conforma por ter perdido o Ministério da Pesca.