Título: Pacificação geral
Autor: Vasconcellos, Fabio ; Damasce, Natanael
Fonte: O Globo, 02/01/2011, Rio, p. 26

Cabral promete acabar com poder paralelo e chegar ao fim de nova gestão com 40 UPPs em 140 favelas

O governador Sérgio Cabral voltou ontem ao plenário da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) para tomar posse do seu segundo mandato. Durante a rápida cerimônia comandada pelo deputado estadual Jorge Picciani (PMDB), presidente da Casa, Cabral prometeu que, até o fim do seu governo, livrará o estado do poder do tráfico de drogas e das milícias. A Secretaria de Segurança trabalha por enquanto com a ideia de chegar ao total de 40 Unidades de Polícia Pacificadora (já existem 13) para 140 comunidades. Algumas delas com mais efetivo policial do que a média usada até agora (180 PMs por unidade), como no caso dos complexos do Alemão e da Penha, que deverão ter cinco UPPs com 2,2 mil homens. Nesse caso, uma UPP pode fazer a segurança de mais de uma favela:

- Nós não vamos extinguir os marginais ou a venda de produtos ilegais. Isso há em outras cidades, como Nova York, Estocolmo, Paris ou Buenos Aires. O que não podemos é ter essa situação vexatória de controle armado em comunidades do Rio.

Cabral afirmou que a segurança será a prioridade do seu governo e que, sem ela, as outras políticas ficam prejudicadas:

- Temos muitos desafios pela frente. Na área dos transportes, da agricultura, do meio ambiente, do saneamento, da infraestrutura, da saúde, da educação. Mas tudo isso perde peso, perde importância, enquanto nós tivermos um bairro ou uma comunidade dominada pelo poder paralelo. Por isso, reafirmo aqui que, em 2014, não haverá uma comunidade, um bairro do estado dominado pelo poder paralelo. Seja de miliciano, seja de traficante.

Cabral lembra Tim Lopes em discurso

O governador lembrou que, quando assumiu o primeiro mandato, em 2007, o Rio estava em pânico, devido a ataques de traficantes, e que o seu governo combateu o crime organizado. Em quase 40 minutos de discurso, Cabral afirmou ainda que a política de segurança implantada no estado honrou a memória do jornalista Tim Lopes, assassinado por traficantes em 2002.

Este ano, a cerimônia de posse foi toda realizada na Alerj. Na Rua Primeiro de Março, Cabral passou a tropa em revista. Logo após a cerimônia, o governador viajou para Brasília, onde participou da posse da presidente Dilma Rousseff.

Antes do discurso na Alerj, Cabral, o vice-governador Luiz Fernando Pezão e o prefeito Eduardo Paes tiveram uma reunião com integrantes do Comitê Olímpico Internacional (COI). Além das conquistas na área da segurança, o governador fez um balanço dos quatro anos da sua administração. Ele afirmou que os investimentos na gestão levaram o estado a passar por um bom momento financeiro.

Em diversos momentos do discurso, Cabral enfatizou a importância da parceria com o governo federal para o seu governo. Segundo ele, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva "estendeu a mão ao povo do Rio a cada dia" nos últimos quatro anos. E isso teria sido decisivo para garantir as condições que permitiram a redução dos índices de violência, além de ter viabilizado outros feitos do governo do estado.

- Não há como governar um estado com 16 milhões de habitantes, não há como governar uma instituição pública, uma cidade, um país, se não acreditarmos em parceria. E o que ocorreu nesses quatro anos foi exatamente parceria. O governo do estado não tem recursos suficientes para todos os desejos, ambições e sonhos do povo do Rio de Janeiro.

Cabral citou ainda Dilma Roussef. Segundo o governador, o Rio acredita que a nova presidente manterá as parcerias com seu governo. Ele lembrou ainda que, durante sua campanha eleitoral, Lula e a então candidata fizeram referências às políticas públicas do estado - sobretudo na segurança e na saúde. Horas depois, na cerimônia de posse de Dilma em Brasília, a presidente voltou a citar o Rio como exemplo de parceria, lembrando a união dos governos estadual e federal contra a violência no Rio.

Sobre a disputa em torno dos royalties do petróleo, Cabral disse que confia na presidente Dilma. Ele acredita que o Rio não será prejudicado.

- O Rio não tolera injustiça com nenhum dos 27 estados da federação - disse.