Título: O Rio será um dos 5 melhores da educação
Autor: Celestino, Helena ; Vasconcelos, Fábio
Fonte: O Globo, 02/01/2011, Rio, p. 27

NOVO GOVERNO

Governo estabelecerá metas para escolas e premiará professores e alunos para elevar índices do ensino básico

O segundo mandato do governador Sérgio Cabral, que tomou posse ontem, terá três metas principais: avançar com a política de pacificação de comunidades controladas pelo tráfico ou pela milícia; ampliar o serviço de saúde, com apoio aos municípios e construção de hospitais; e tirar o Rio da penúltima posição do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) - o estado só ficou à frente do Piauí. O objetivo é colocar o Rio entre os cinco melhores do país. Para isso, o governo vai estabelecer metas para escolas e premiação para professores. Em entrevista exclusiva na semana passada, Cabral afirmou que o maior mérito do seu governo foi melhorar a gestão da administração. As medidas permitiram aumentar o investimento público e contratar servidores para áreas que estavam há 18 anos sem realizar concurso, como a Secretaria de Fazenda. Cabral diz que vai manter as boas relações com a presidente Dilma Rousseff. Apesar do entusiasmo com que diz governar o Rio - "sem tesão, não há solução", brinca -, ele afirma que, em 2014, não disputará eleições. E acrescenta que o candidato ao governo pelo PMDB será o seu vice, Luiz Fernando Pezão.

"Sem gestão, nada disso teria ocorrido"

EDUCAÇÃO: "Nós saímos da idade da pedra. A Tereza Porto (ex-secretária, substituída em novembro) fez um excelente trabalho de inserção da educação no século XXI. Deu aos professores tecnologia, laboratórios de informática, o mínimo de conforto nas salas de aula e criou programas lúdicos e culturais. Há 12 anos que os professores não tinham reajuste salarial. Imagine isso. A grande maioria tem uma carga de 16 horas por semana. A gente melhorou o salário, e aí foi uma mudança brutal, o salário dos de 40 horas. Esses vão poder se aposentar com R$8 mil. Contratamos 30 mil professores."

METAS PARA EDUCAÇÃO: "Teremos metas e premiação para as melhores escolas. O Rio será um dos cinco melhores do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) em 2014. Estou assumindo isso publicamente. Um estado como o Rio, de Antonio Carlos Jobim e Cartola, não pode ficar nesta situação vexatória. Neste momento, há mais de 40 consultores formulando o modelo. Assino os decretos no início deste ano."

NOVO SECRETÁRIO: "Fiquei muito impressionado com o Risolia (Wilson Risolia, novo secretário de Educação). O RioPrevidência, que ele comandava, estava falido quando nós assumimos. A Rosinha (ex-governadora Rosinha Garotinho) em quatro anos revisou, sob pena de prisão do administrador, 3,5 mil pensões. Nós revisamos 52 mil. Zeramos o estoque de pensões. Hoje não há qualquer pensão pendente de revisão. Ele (Risoli) é um gestor de muita qualidade, apaixonado, e muito humano. Tomei a decisão de transferi-lo para a educação antes de acabarem as eleições."

GESTÃO: "O maior gol do meu governo. Sem gestão, nada disso poderia ter ocorrido (melhorias na educação, na saúde e na segurança). Esses caras, Pezão (Luiz Fernando Pezão, vice-governador), Régis (Régis Fichtner, secretário da Casa Civil), além do Wilson (Wilson Carlos, secretário de Governo), do Sérgio Ruy Barbosa (secretário de Planejamento) e do Joaquim Levy (ex-secretário da Fazenda), tiveram um mérito fantástico, que foi reorganizar o estado, valorizar o concurso público. Nós colocamos 50 mil pessoas para dentro do serviço público."

CONTAS PÚBLICAS: "Qual foi o maior troféu da gestão? Receber no dia 30 de março o grau de investimento da Standard&Poor"s. Nós temos o mesmo grau de investimento da Petrobras, da Vale e do governo brasileiro. Foi o primeiro governo estadual da América do Sul. Foi um conjunto de coisas, e o Alemão e o Complexo da Penha não estão dissociados dessa realidade. Nós fizemos uma mudança nesses quatro anos de história do Rio. Não fui eu, foi um time, com uma outra lógica de gestão, de união, parceria, de dar a mão ao governo federal e às prefeituras."

DESBUROCRATIZAÇÃO: "Tem um negócio do Tesouro Nacional, que é o tal do Cauc (Cadastro Único de Convênios). Se você está inadimplente com o governo federal, por alguma razão, não só de pagamento, você pode ter problemas para liberar recursos. O dinheiro do presídio não saiu? Não saiu por quê? Porque havia um convênio na área do esporte da época do Marcello Alencar sobre o qual ele não prestou contas. Encontramos 70 convênios assim. Então a missão foi limpar as pendências no Cauc. Isso é uma tragédia, porque, se você não tem gente qualificada, não consegue fazer. O Régis (Fichtner) montou um escritório de gerenciamento e hoje nós damos consultoria para 70 das 92 cidades que assinaram acordo conosco, porque também enfrentam problemas, mas não têm gente qualificada."

LINHA 3 DO METRÔ: "A Linha 3 do Metrô (Niterói-São Gonçalo) era uma porcaria de projeto feito lá atrás. O TCU (Tribunal de Contas da União) condenou. O Régis foi à China e verificou que já existe trem monorail. Nós vamos anular e fazer uma nova licitação (da Linha 3). O monorail é mais barato e mais rápido."

CORAÇÕES E MENTES: "Eu acredito que sim (que ganhou corações e mentes). A entrada no Alemão e na Penha foi o desembarque na Normandia. E a população aplaudiu. Quem tinha algum romantismo em relação ao banditismo do traficante ou do miliciano já não tem mais. Acho que ganhei a confiança da população. Ela torceu pelo êxito daquela operação (no Alemão). Não era uma luta de mocinho contra bandido. Era uma luta do bem contra o mal. A população já enxergava ali uma política pública que ia acontecer no dia seguinte. Até a nossa chegada, não se tinha luz no fim do túnel na política de segurança pública, e hoje há um conjunto de fatores, em que a UPP é a expressão máxima disso. A população enxerga uma mudança efetiva de política de segurança."

SAÚDE: "A meta é qualificar mais os municípios e ampliar a (rede de) média e alta complexidade. Vamos dar um reforço grande em Niterói, São Gonçalo e na Baixada Fluminense. Vamos ajudar as prefeituras com as Clínicas de Família. O Rio tinha menos de 3% de cobertura do Médico de Família. O Paes (prefeito Eduardo Paes) atacou a Zona Oeste e o subúrbio e já está com 20% de cobertura. Temos um programa de apoio aos hospitais do interior que precisa ser cada vez mais valorizado."

REGULAÇÃO DE LEITOS: "Esse é um problema sério. A gente precisa ter cada vez mais os três níveis (município, estado e União) integrados, mas para baixo é uma dificuldade: "Esse leito é meu, esse é do estado, esse é do município". Isso aos poucos esta melhorando. Aos poucos estamos quebrando esse domínio, essa ideia do "meu leito". Você já imaginou que a cidade do Rio tem dois milhões de pessoas na Zona Oeste, de Marechal Hermes a Sepetiba, e só tem hospital de emergência do estado? O governo de Minas Gerais não tem um hospital de emergência. Nós temos 15. Niterói não tem hospital de emergência, a não ser o Azevedo Lima."

RELAÇÃO COM DILMA: "Nós trabalhamos muito bem com ela nesses quatro anos. Nunca brigamos. A Dilma (Rousseff) fica feliz de nos ver (Cabral e Pezão). Nesses quatro anos não tivemos um problema sequer com a ela na Casa Civil. No momento mais duro, do Pan-Americano, ela reuniu todo mundo e sabia tudo, até o custo da pira olímpica. Ela conhece o Complexo do Alemão, sabe da obra do PAC na Rocinha, das obras de saneamento na Baixada Fluminense, do Arco Metropolitano. É evidente que poderemos ter divergências, como tive com o presidente Lula (no caso dos royalties do petróleo). Isso é uma coisa, outra coisa é ter lealdade. Eu vou trabalhar lealmente para que ela se reeleja em 2014. E tenho certeza absoluta de que ela vai se reeleger. A Dilma não se propõe a ser um mandato tampão. Ela se propõe a ser uma presidente da República para disputar uma reeleição."

PEZÃO 2014: "Em 2016, espero estar na abertura das Olimpíadas, convidado pelo Pezão, que será o nosso candidato ao governo em 2014, e pelo Eduardo Paes, que vai ser reeleito em 2012, se Deus quiser. Vou estar no MIS (Museu da Imagem e do Som), assistindo a todos aqueles eventos."

FUTURO POLÍTICO: "Faço as coisas com tesão. Sem tesão não há solução, já dizia o Roberto Freire. Então, eu não quero voltar a ser deputado estadual, não quero voltar a ser senador e não poderei ser governador em 2014. Com 51 anos de idade, eu vou ser gestor. A experiência que eu vou ter acumulado me permitirá ser gestor. Não pretendo disputar eleição em 2014. Fico no mandato de governador até o fim, pensando única e exclusivamente no legado que posso deixar para o Rio."