Título: Exemplo do Alemão para o país
Autor: Carvalho, Jailton de; Fabrini, Fábio
Fonte: O Globo, 03/01/2011, O País, p. 3

NOVO GOVERNO

Novo ministro da Justiça diz que união de forças de segurança adotada no Rio será ampliada

Na primeira entrevista após assumir o comando do Ministério da Justiça, o ex-deputado José Eduardo Cardozo (PT) se comprometeu a estender para todo o país a experiência do Rio de Janeiro, que resultou na reocupação do Complexo do Alemão por parte do poder público. A comunidade foi retomada dos traficantes com a colaboração entre as polícias Civil e Militar e as Forças Armadas:

- O Rio de Janeiro, recentemente, nos deu um grande exemplo de que, quando a União, o estado, o município, as polícias, as Forças Armadas, os meios de comunicação e a sociedade se unem em torno de um objetivo comum, os resultados acontecem. Temos que aprender com essa experiência, aprofundá-la, aperfeiçoá-la e levá-la aos quatro cantos do território nacional - disse.

Para Cardozo, disputas partidárias não podem ameaçar essas ações:

- Se existem interesses político-partidários, pessoais, corporativos, ou outros de quaisquer naturezas, eles devem ceder espaço à pactuação em torno da defesa do interesse público, da nossa sociedade e do nosso país. O Estado brasileiro é mais forte e poderoso que o crime organizado. Tenham certeza disso. E nós, brasileiros e brasileiras, governantes e governados, vamos demonstrar isso, doa a quem doer.

Controle maior nas fronteiras

Cardozo disse que vai intensificar a fiscalização das fronteiras com ações da Polícia Federal, das Forças Armadas e ainda com a cooperação de países vizinhos. Se necessário, disse, o governo brasileiro financiará ações de outros países da região. Para Cardozo, não há como combater o crime organizado, especialmente o tráfico de drogas, sem forte vigilância nas fronteiras.

- Se for necessário que nós subsidiemos alguma coisa, acho que temos de fazê-lo, nos limites daquilo que a lei nos permitir. Essa situação precisa ser enfrentada em conjunto - disse, depois da solenidade de transmissão de cargo.

Para Cardozo, é importante ampliar a atuação da PF nas fronteiras e aumentar a cooperação da instituição com as Forças Armadas. As bases militares são consideradas fundamentais para agir nas fronteiras.

Cardozo disse que já marcou uma reunião com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, para tratar do tema:

- É muito difícil, quase que impossível, combater o crime organizado se não tivermos uma ampliação da vigilância das fronteiras. Para isso, primeiro, é necessário um aprofundamento das relações com as Forças Armadas - disse.

O governo brasileiro está negociando acordos também para fazer sobrevoos dos Vants (veículos aéreos não tripulados), aviões de fiscalização, no espaço aéreo de outros países. A Bolívia e o Paraguai já concordaram com a ideia; porém, a proposta ainda é vista com reservas por autoridades colombianas. No discurso e, após a entrevista, Cardozo reafirmou que o combate à violência, ao tráfico e ao consumo de drogas, sobretudo do crack, é uma das prioridades do governo federal.

O ministro também prometeu combate implacável à corrupção. Segundo ele, servidores públicos acusados de desvios de conduta serão excluídos das esferas de poder. Cardozo disse ainda que a PF deverá manter a linha das grandes operações, mas sem exposição excessiva dos investigados.

- A Polícia Federal não pode ser a polícia de um governo. Deve ser a polícia do Estado brasileiro, atuando sempre a partir de padrões republicanos e de seriedade investigativa. Deve buscar a eficiência máxima sem a espetacularização das suas ações - disse Cardozo.