Título: Palocci, na Casa Civil, diz que é só um do time
Autor: Jungblut, Cristiane; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 03/01/2011, O País, p. 5

"Tenham nesta Casa um espaço de diálogo franco sobre nossos grandes desafios, mas tenham-me como um de vocês"

BRASÍLIA. O petista Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda, voltou ontem ao centro do poder político, desta vez no Palácio do Planalto, ao assumir o comando da Casa Civil. Numa concorrida cerimônia e diante de 15 ministros, políticos e empresários, Palocci fez um discurso cuja principal preocupação era tentar desfazer o título de "superministro" que lhe atribuem. Mas a maciça presença dos demais colegas de Ministério só reforçava a interpretação corrente de que ele não será apenas mais um na equipe da presidente Dilma Rousseff.

Palocci pediu aos ministros que o enxergassem como "um da equipe" e garantiu que não irá comandar a articulação política do governo, tentando também desfazer a avaliação de que poderia "fazer sombra" à própria Dilma, a quem chamou de "minha chefe". Sorridente, usou o bom humor e brincadeiras para passar os recados à equipe de Dilma.

Ministro promete que não vai desapontar

Após deixar o poder em março de 2006 no rastro do caso do caseiro Francenildo, Palocci agradeceu a oportunidade da volta e garantiu:

- Não vou desapontar.

Para os numerosos parlamentares na plateia, disse que a tarefa de negociar com o Congresso será do ministro de Relações Institucionais, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ). Mas, na prática, Palocci será uma espécie de coordenador político informal do governo.

- Nosso relacionamento com o Poder Legislativo, pela sua dinâmica e complexidade, certamente exigirá a atuação de todos os ministros. Mas, meu caro Luiz Sérgio, conte sempre com o meu apoio, a bola é toda sua. A coordenação dos trabalhos políticos do governo continua a cargo da Secretaria de Relações Institucionais, e esta Casa Civil, assim como todos os demais ministérios, estará pronta a apoiar o trabalho do seu titular, Luiz Sérgio, parlamentar de longa experiência - disse.

O seu discurso foi estrategicamente pensado para tentar diminuir os holofotes de sua atuação no governo.

- Palocci mandou um recado claro: o de que não quer saber de polêmica. Só faltou dizer: "Me incluam fora do noticiário" - resumiu o secretário de Comunicação do PT, deputado André Vargas (PR).

- Palocci distribuiu tarefas e descentralizou ações. Isso foi tanto comigo como com os demais ministros - afirmou Luiz Sérgio.

Discurso de quem não quer repetir a era José Dirceu

Depois de citar o nome de todos os ministros presentes, Palocci adotou o discurso de quem não quer ver se repetirem os atritos políticos da era de José Dirceu na Casa Civil, por exemplo.

- À Casa Civil, cabe uma ação mais interna com o objetivo de servir à Presidência em suas prioridades e ajudar os ministérios na coordenação de seus diversos programas. E tenham nesta Casa um espaço de diálogo franco sobre nossos grandes desafios, mas tenham-me como um de vocês, um da equipe, um do time - disse Palocci. - A Casa Civil não é um ministério autônomo, de ideias e programas próprios.

Palocci lembrou as metas fixadas por Dilma, inclusive o combate à corrupção:

- A presidente demonstrou que, com os avanços sociais do governo Lula, a eliminação da miséria deixa de enfrentar o rol das metas impossíveis e pregou a valorização da nossa democracia, com o respeito ao conteúdo programático dos partidos, o combate à corrupção e pela maior transparência na atividade pública.

Palocci confirmou as mudanças no atual formato da Casa Civil - a coordenação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do programa Minha Casa, Minha Vida é repassada ao Ministério do Planejamento, a cargo de Miriam Belchior. E confirmou outras: a Secretaria de Administração do Planalto, que cuida da parte burocrática da Presidência, irá para a Secretaria Geral, comandada pelo ministro Gilberto Carvalho, a quem chamou de "mui dileto amigo e nosso guia espiritual".

Já o Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) irá para o Ministério da Defesa; e o Arquivo Nacional voltará para o Ministério da Justiça. Com as mudanças, disse Palocci, a Casa Civil ficará concentrada nas "suas funções originais".

Ele ressaltou seu excelente relacionamento com a imprensa na época em que foi ministro da Fazenda, afirmando até que quis ser jornalista e optou depois pela medicina, mas disse que agora será "econômico".

- Não me cabe ficar dando opinião sobre todas as coisas. Serei econômico em matéria de entrevistas e pronunciamentos - disse, finalizando e agradecendo à mulher, Margareth, e à mãe, ambas presentes.

"Casa Civil não deve expressar vontades próprias"

O ministro disse que nenhum servidor da Casa Civil, nem ele próprio, está autorizado a se manifestar sobre assuntos de outros ministérios. Para ele, "a Casa Civil não deve expressar vontades próprias". Palocci afirmou que a Casa Civil será aberta e transparente em relação às informações de interesse público.