Título: Primeiro combate
Autor: Vidor, George
Fonte: O Globo, 03/01/2011, Economia, p. 19

O governo Dilma começa com um desafio imediato na economia: evitar que as expectativas em relação à inflação se deteriorem, obrigando o Banco Central a elevar as taxas básicas de juros mais do que o meio ponto percentual esperado pelo mercado financeiro para a reunião do Copom agora em janeiro. A favor das autoridades está a possibilidade de o IPCA cair este mês.

No ano passado, os índices de inflação foram muito elevados nos dois primeiros meses (IPCA de 0,75% em janeiro e de 0,78% em fevereiro). Naquele momento, os alimentos estavam em trajetória de forte alta por causa do excesso de chuvas, o que prejudicou o armazenamento e o transporte da produção. Em 2011 o quadro é diferente porque os alimentos estarão em curva inversa, pois acabaram subindo demais no quarto trimestre de 2010.

Como as altas mais acentuadas ocorreram em alimentos que pesam muito nos índices de preços (feijão arroz, carnes, óleo de soja), da mesma maneira que fizeram o IPCA dar um salto a partir de outubro, devem contribuir para que a inflação recue nesse início de ano, nem que seja o suficiente para que, no acumulado em 12 meses, ele caia de 5,8% para 5,5%.

Esse "ganho" de curtíssimo prazo pode proporcionar a Dilma o tempo que seu governo precisa para apresentar os primeiros resultados na política fiscal.

As expectativas quanto à trajetória da inflação somente vão melhorar quando o novo governo deixar clara sua política de gastos. No governo Lula, as despesas da União aumentaram em termos reais 10% ao ano. Na média, mais do que o dobro do crescimento da economia no período. Uma parte desse aumento de gastos pode ser justificada pela necessidade de se readequar serviços e programas sob responsabilidade do estado. Mas, nesse mundo da economia, não tem ninguém bobo - todos sabem que não existe almoço grátis - e não adianta camuflar números para disfarçar que o componente político passou a ditar os rumos da execução orçamentária.

Em 2010 Lula esticou a corda. Chegou então a hora de pôr novamente ordem na casa. Dificilmente a economia brasileira deixará de crescer entre 4% e 5% ao ano até 2014. Todavia, dependendo do que o governo fizer até lá, esse crescimento armará diversas bombas de retardo na inflação e nas contas externas, que acabarão detonando exatamente em 2014, ano de Copa do Mundo, e de eleições gerais. Certamente não é o que o governo Dilma planeja, pois seria suicídio político.

São necessários pelo menos cinco anos para se formar um oficial de marinha mercante. Embarcações de médio e grande portes custam milhões de dólares e não podem ficar sob responsabilidade de profissionais ainda inexperientes ou pouco qualificados.

Somente em apoio às atividades de exploração e produção de petróleo no mar, o Brasil conta hoje com 355 embarcações (cujo aluguel médio diário é da ordem de US$20 mil). A Transpetro está renovando e ampliando sua frota de grandes petroleiros e há encomendas de navios feitas por outras armadores brasileiros. Isso faz com que haja uma demanda crescente por marítimos que vão compor a tripulação dessas futuras embarcações.

Os oficiais são formados por duas gabaritadas escolas da Marinha de Guerra (uma no Rio e outra em Belém) que vêm ampliando as vagas em seus cursos. Mesmo assim, o presidente da Associação Brasileira das Empresas de Apoio Marítimo (Abeam), Ronaldo Lima, prevê, apenas para seu segmento, uma falta de 288 oficiais no ano que vem. Esse "déficit" será crescente até 2014 - a projeção chega a 1.339 oficiais.

Curiosamente, existe um fato que agrava o problema: a evasão de profissionais (da ordem de 28%). Esse evasão ocorre, entre outras razões, porque muitas oficiais mulheres desistem ou se licenciam da profissão quando casam ou têm filhos.

É realmente uma situação curiosa, pois as mulheres já correspondem a 45% do total de alunos nas escolas de formação de oficiais de marinha mercante. Elas geralmente tiram notas melhores que os homens e esse desempenho se repete quando estão embarcadas - o cuidado com a limpeza nos navios com tripulantes mulheres muda radicalmente, por exemplo.

No entanto, é difícil conciliar gravidez e atividade de marítimo. Esses profissionais costumam ficar embarcados por 28 dias (folgando nos 28 dias seguintes). Na maioria das profissões, as grávidas conseguem trabalhar até as vésperas do parto, mas, no caso das oficiais de marinha mercante, já no primeiro mês isso pode ser um risco, que nenhum comandante aceita correr. Mas a legislação não reconhece essa situação e surge então um conflito. Em terra, as oficiais perdem as gratificações e os adicionais por periculosidade. Passam a ganhar a menos e o ambiente funcional se deteriora.

Depois que os filhos nascem, muitas oficiais desistem da profissão ou se licenciam por longo tempo porque não têm como se afastar de seus bebês por semanas seguidas. Mesmo sem filhos, as oficiais casadas sofrem pressão de seus maridos para deixarem a profissão (situação semelhante ocorre com as mulheres que trabalham em plataformas de petróleo).

Assim, embora faltem marítimos no mercado, oficiais mulheres têm mais dificuldades para serem contratadas pelos armadores.

A proposta da Abeam é que temporariamente as empresas possam contratar marítimos estrangeiros para preencher as vagas existentes. Os sindicalistas admitem essa possibilidade, mas apenas no caso de novas embarcações e não para as que já estão navegando.

Considerações políticas à parte, espera-se que, para o bem do país, a presidente Dilma faça um bom governo.

Desejo a todos um feliz 2011!