Título: Republicanos querem usar WikiLeaks contra Obama
Autor: Eichenberg, Fernando
Fonte: O Globo, 10/01/2011, O Mundo, p. 20

Deputado da oposição pretende abrir CPI para apurar as falhas de segurança e chamar Hillary para depor

WASHINGTON. Ainda é incerto se os trágicos acontecimentos no Arizona também provocarão o adiamento da abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara sobre o vazamento de documentos diplomáticos americanos secretos para o site WikiLeaks, prevista para esta semana. Mas a oposição republicana continua a elevar o tom em Washington. A CPI é uma das tantas planejadas pelo deputado republicano Darrell Issa, líder na Câmara da Comissão de Supervisão do Governo, para atacar o governo do presidente Barack Obama, desta vez tendo por base os documentos publicados pelo site e o constrangimento da diplomacia americana diante das revelações.

O objetivo é colocar a Casa Branca na parede, e exigir explicações detalhadas sobre a origem dos vazamentos, a forma como são protegidos os documentos oficiais sigilosos, e apontar falhas de segurança e eventuais riscos futuros para o país.

No papel de novo ¿xerife¿ de Washington, Darrell Issa ameaça convocar para testemunhar no plenário a secretária de Estado, Hillary Clinton, o assessor da Casa Branca para assuntos de Segurança Nacional, Thomas Donilson, e outros integrantes do alto escalão do governo Obama. Pela lei, em casos específicos de segurança nacional, o presidente tem poderes para impedir que seus principais assessores sejam obrigados a depor no Congresso.

O recurso já foi usado no passado recente por George W. Bush, para impedir que seu chefe de gabinete, Karl Rove, e sua secretária de Estado, Condolezza Rice, fossem interrogados por parlamentares.

Mas a CPI tem também efeitos políticos e é uma peça considerada estratégica na política republicana para pressionar o governo a adotar uma postura mais rígida em relação ao líder do site WikiLeaks, atualmente em liberdade condicional no Reino Unido. Julian Assange está à espera de uma definição sobre o pedido de sua extradição para a Suécia, onde é acusado por crimes sexuais, e Obama poderia pressionar para que houvesse uma extradição para os EUA, onde a oposição quer que ele seja julgado por participação no vazamento de documentos secretos da diplomacia americana.

Também está em curso um inquérito aberto pelo governo, dirigido pelo procurador-geral dos EUA, Eric Holder ¿ outro alvo declarado da oposição republicana ¿, para determinar as causas e consequências do polêmico vazamento. Até agora, no entanto, o Departamento de Justiça não divulgou publicamente conclusão alguma sobre o resultado das investigações. Assange não poderia ser acusado da publicação, já que isto não seria crime. É preciso provar que ele ajudou o responsável pelo vazamento na condição de cúmplice da empreitada.

A aposta de oposição republicana é pintar a imagem de um presidente fraco, incapaz de reagir a falhas de segurança que ameaçam a diplomacia do país e que podem pôr em risco as vidas dos soldados americanos e de seus colaboradores. (F.E.)