Título: Escalada em Gaza ameaça trégua
Autor: Kresch, Daniela
Fonte: O Globo, 10/01/2011, O Mundo, p. 21
Hamas quer reduzir ataques e já teme perder o controle sobre radicais
TEL AVIV. Dois anos depois da ofensiva na Faixa de Gaza, que deixou mais de 1.200 palestinos mortos, a tensão voltou a rondar a fronteira do território com Israel. Temendo uma nova ação militar em meio à escalada nos lançamentos de foguetes e morteiros contra vilarejos israelenses na fronteira, o grupo extremista Hamas, que controla Gaza há mais de três anos, pediu às facções extremistas que atuam na região para que evitem cutucar Israel com vara curta.
¿ Começamos a fazer contato com as facções para discutir a situação. O Hamas quer controlar a situação e apela às facções que voltem a honrar o acordo nacional ¿ afirmou Ayman Taha, um dos líderes do grupo.
Taha se referiu ao acordo de cessar fogo selado entre Israel e os militantes de Gaza ¿ liderados pelo Hamas ¿ ao fim da ofensiva de 22 dias que devastou partes da região entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009. Mas, apesar da trégua, facções radicais como a Jihad Islâmica continuam a lançar projéteis contra Israel. Só nos primeiros dias de 2011 mais de 20 foguetes do tipo Grad e Qassam, além de morteiros, foram lançados contra vilarejos israelenses. Na sexta, um ataque atingiu uma cooperativa agrícola, ferindo três trabalhadores tailandeses.
O aumento no ritmo dos ataques melindrou o exército israelense, sobretudo depois que, numa das represálias, no fim de semana, um soldado de 20 anos morreu por ¿fogo amigo¿. Não que a situação na fronteira estivesse calma antes. Só em 2010, 235 projéteis atingiram Israel, motivando contra-ataques militares de Israel contra bases paramilitares em Gaza. Só em dezembro, 13 militantes palestinos morreram nessas reações.
Desde a virada do ano, porém, os ânimos se acirraram, para temor do Hamas, que tenta manter o controle de Gaza em meio ao boicote econômico israelense à região e às fracassadas negociações para uma união nacional com os rivais do partido moderado Fatah, do presidente Mahmoud Abbas, que controla a Cisjordânia.
¿ O Hamas está interessado numa calmaria e evita uma piora na situação. Mas, ao mesmo tempo, sente-se na obrigação de provar que não abriu mão da luta armada. Por isso, seus militantes não atacam Israel, mas fazem vista grossa a quem ataca ¿ diz o analista Dan Margalit.
A tensão em Gaza piora ainda mais o clima já pesado entre israelenses e palestinos. Ontem, a demolição de um prédio histórico na parte oriental de Jerusalém ¿ onde os palestinos almejam construir a capital de um Estado independente ¿ afastou a volta das conversas de paz, estancadas há três meses. O Hotel Shepherd, construído nos anos 30 por um conhecido líder islâmico e comprado em 1985 por um milionário judeu, foi demolido depois de anos de batalha judicial para a construção de 20 casas para judeus.
¿ Esse ato é parte de um programa do governo israelense para impedir qualquer solução em Jerusalém ¿ reclamou o negociador palestino Saeb Erekat.
A secretária de Estado Hillary Clinton também manifestou preocupação com a demolição do Shepherd. Segundo ela, isso prejudica os esforços de paz em busca de uma solução que contemple dois lados:
¿ Esse ato contradiz a lógica de um acordo razoável e necessário sobre o status de Jerusalém ¿ disse ela.