Título: Trichet: controle de capital é legítimo
Autor: Beck, Martha ; Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 11/01/2011, Economia, p. 20

Em nome dos principais bancos centrais do mundo, Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu (BCE), reconheceu ontem que "há certa legitimidade" nas medidas de controle de capital que vêm sendo adotadas por países emergentes para conter a onda - potencialmente desestabilizadora - de ingresso de capital estrangeiro de curto prazo em busca de ganhos especulativos. Isso representa uma mudança no discurso dos banqueiros, tradicionalmente aversos a qualquer controle.

Mas Trichet, que presidiu um encontro dos banqueiros na Basileia, Suíça, alertou: o controle de capital não deve ser excessivo.

- Tanto nas economias avançadas quanto nas emergentes, um grande fluxo de capital pode ser um problema. Mas em primeiro lugar é preciso haver solidez das políticas macroeconômicas. Em segundo, pode ser que seja necessário - e aí há certa legitimidade - algum tipo de controle de capital. Mas não muito!

Um observador do encontro disse que o segredo é emergentes não adotarem medidas de controle que criem distorções nas suas próprias economias, como, por exemplo, a quarentena adotada pelo Chile ou controles quantitativos de capital que o Brasil usou na década de 80. Para ele, as medidas anunciadas pelo Brasil agora "estão na linha certa", pois taxam o capital na entrada e não na saída.

Uma dificuldade, segundo o observador, será busca do equilíbrio da economia mundial através de um acordo no G-20, o grupo das maiores economias. Isso porque nem China nem EUA querem sacrificar seus interesses.

Trichet disse que os banqueiros discutiram o "crescimento impressionante" nos países emergentes e constataram que a economia global está se recuperando "melhor que o esperado". Mas concordaram que há um problema: o crescimento rápido de emergentes está sendo acompanhado de inflação.

A reunião dos banqueiros, na sede do Banco de Compensações Internacionais - espécie de BC dos bancos centrais do mundo - abriu com Trichet dando boas vindas ao novo presidente do BC do Brasil, Alexandre Tombini, e rasgando elogios ao antecessor, Henrique Meirelles, homenageado num jantar.

- Ao mesmo tempo em que dou as boas vindas a Alexandre, faço o meu tributo a Henrique por sua contribuição marcante à comunidade internacional.