Título: Uma mente muito pertubada
Autor: Eichenberg, Fernando ; Godoy, Fernanda
Fonte: O Globo, 11/01/2011, O Mundo, p. 25

TUCSON, EUA. Responsável por provocar arrepios em alguns colegas de turma e professores, Jared Loughner, de 22 anos, era considerado há até pouco tempo apenas um jovem estranho. Seu temperamento se tornou motivo de preocupação no Pima Community College em junho do ano passado, três meses antes de se afastar da instituição. As perturbações do estudante chamaram a atenção de Lynda Sorenson, uma companheira de classe de 52 anos que cursava Álgebra com Loughner. Os dois alunos não eram próximos, mas um email de Lynda a uma amiga detalhava o comportamento do atirador:

¿Nós temos um estudante na sala que atrapalhou hoje. Ainda não tenho certeza se ele usa drogas ou se é perturbado. Ele me assusta um pouco. O professor tentou expulsá-lo da aula, mas ele se recusou a sair. Espero que ele saia dessa turma logo, e que não volte com uma arma automática¿, relatou Lynda à amiga, em junho do ano passado.

A estudante não foi a única a se manifestar. O próprio professor de Álgebra, Ben McGahee, se assustou com o comportamento perturbador do aluno e reclamou com a direção. McGahee afirma que a personalidade do jovem é marcada por gargalhadas histéricas, bizarrices e momentos explosivos.

¿ Eu estava ficando preocupado com a segurança dos estudantes e da escola ¿ afirmou o professor, acrescentando que acompanhava o aluno até quando escrevia no quadro negro. ¿ Tinha medo de ele sacar uma arma.

Pouco mais de dois meses após o início das aulas, Jared Loughner foi suspenso por colocar um vídeo no YouTube no qual afirmava que a faculdade era ilegal. Numa reunião em outubro, o estudante disse que deixaria a universidade. Três dias depois, a instituição enviou uma carta a Loughner informando que ele estava autorizado a voltar desde que, entre outras coisas, se submetesse a uma avaliação de saúde mental.

Segundo Steven Cates, outro colega de turma, Loughner gostava de falar sobre filosofia, lógica ou literatura, mas nunca política. Outro tema recorrente nas discussões do jovem era a moeda americana, que em sua opinião não tinha qualquer valor.

Autoridades americanas informaram que o Departamento de Segurança Interna já investigava denúncias de que o jovem ¿ um usuário de maconha que fora rejeitado pelo Exército após exames toxicológicos ¿ tinha ligações com grupos como o American Renaissance, defensor da supremacia branca, contrário a imigrantes e antissemita, o que justificaria um atentado contra Gabrielle Giffords, que é filha de judeus e contrária à nova lei de imigração do Arizona.

Mas foi uma espécie de santuário aterrorizante encontrado nos fundos da casa de Loughner que mostrou a frieza e o desequilíbrio do americano. Escondido numa barraca, policiais acharam um altar com um crânio colocado numa panela cheia de laranjas, ao lado de velas e um saco de terra. Segundo especialistas, tais materiais são usados em rituais secretos.