Título: ETA anuncia cessar-fogo, mas Espanha exige fim do grupo terrorista basco
Autor: Guilayn, Priscila
Fonte: O Globo, 11/01/2011, O Mundo, p. 26

MADRI. O grupo separatista basco ETA anunciou ontem um cessar-fogo ¿permanente, geral e verificável¿. O comunicado, feito por três encapuzados num vídeo enviado ao jornal nacionalista ¿Gara¿, chega quatro meses depois de outro no qual a organização declarava o início de uma trégua. Como o anúncio anterior ¿ considerado extremamente vago ¿ o de ontem não foi recebido com credibilidade.

¿ O comunicado não serve, não vamos abaixar a guarda ¿ declarou o presidente do governo, José Luis Zapatero.

O vice-presidente do governo, Alfredo Pérez Rubalcaba, disse que só estaria satisfeito se o ETA declarasse ¿seu fim de maneira definitiva e irreversível¿.

¿ Se me perguntam se eu estou mais tranquilo, digo que sim. Se me perguntam se é o final, digo que não. Se me perguntam se é o que a população espanhola esperava, digo terminantemente que não. Se é uma má notícia? Não. Mas não é a notícia.

Há semanas este comunicado era esperado. O Batasuna ¿ partido político que representava o ETA posto na ilegalidade em 2002 ¿ vinha pressionando a organização para que anunciasse o cessar-fogo permanente, esperando poder participar das próximas eleições, em maio. Além disso, o ETA se encontra enfraquecido devido ao cerco policial e judicial que vem sofrendo desde a ruptura da última trégua, em dezembro de 2006.

O anúncio foi rechaçado também pela oposição.

¿ Qualquer anúncio do ETA que não seja para abandonar as armas não vale. Não admitiremos nenhuma negociação ¿ afirmou a secretária-geral do opositor Partido Popular, María Dolores de Cospedal.

Comunicado não significa fim do grupo basco

O ETA, no entanto, parece esperar esta negociação. No comunicado, diz que a solução será alcançada através do diálogo, com o qual deverão ser resolvidas as questões da ¿territorialidade e da autodeterminação¿. Nestes hipotéticos acordos deverão ser levados em conta os ¿projetos políticos¿ do ETA, ¿incluída a independência¿. A organização ainda exige que Espanha e França ¿abandonem medidas repressivas¿ e conclui o anúncio afirmando que ¿não retrocederá em sua luta¿.

Apenas por este comunicado, que acaba repetindo o eterno discurso do grupo, é precipitado falar do fim da organização. Raul Calvo Soler, autor de ¿A negociação com o ETA¿, opina que este é um gesto positivo, mas representa apenas um passo.

¿ Onde houve experiências frustrantes é muito mais difícil alcançar resultados: a falta de credibilidade acaba desempenhando papel importante contra esse processo. Para o fim do ETA, é preciso alcançar o ponto de maturidade, que depende do otimismo e da credibilidade gerada por este processo.

É o caso da Espanha, cuja História já contabiliza mais de uma dezena de tréguas falidas do ETA. Nos últimos quatro anos e meio, o grupo basco cometeu cerca de 50 atentados e matou 12 pessoas.