Título: Para especialistas, é preciso garantir cidadania
Autor: Gois, Chico de; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 07/01/2011, O País, p. 3

Segundo eles, pobreza não se combate só com renda

BRASÍLIA. Especialistas na área social e de combate à pobreza elogiaram ontem a proposta do governo Dilma Rousseff para o Programa de Erradicação da Extrema Pobreza. Para a coordenadora de Responsabilidade Social do Ipea, Anna Peliano, é um aceno positivo a declaração da ministra de Desenvolvimento Social, Tereza Campello, de que a agenda de combate à pobreza não terá somente programas de transferência de renda. Mas pondera que é preciso ver de que maneira se dará a inclusão social e produtiva dos beneficiados do Bolsa Família.

- Acho uma agenda positiva (a apresentada pela ministra) porque, de fato, não se resolve o problema da pobreza só com a renda. Embora fundamental, é preciso garantir cidadania: educação, saúde, moradia, alimentação adequada. A pobreza tem várias facetas - disse Anna Peliano: - A proposta é um passo importante. Acho interessante não achar que basta apenas tirar a pessoa da linha da pobreza para resolver o problema no país. Resta saber como será feito. O Brasil tem que investir na qualidade dos serviços que chegam à comunidades mais pobres.

Anna Peliano coordenou, por quatro anos durante o governo Fernando Henrique Cardoso, o programa Comunidade Solidária. Também foi diretora Social do Ipea e participou da unificação dos programas de transferência de renda no primeiro governo Lula. Ela enfatiza que o acesso da população mais pobre a serviços públicos de qualidade é uma forma de qualificá-los para o mercado de trabalho:

- Não sei se são portas de saída, mas principalmente a garantia de cidadania à população mais pobre. É preciso dar todos esses componentes, e o trabalho vem como consequência. Está vindo o crescimento econômico, e as pessoas mais pobres não estão preparadas para o mercado.

Outro especialista do Ipea, o economista Sergei Fonseca, também elogia a iniciativa, mas afirma que não se pode ignorar que as chamadas "portas de saída" dos programas de transferência de renda são medidas importantes, mas não se deve criar expectativas irreais de que poderão permitir o fim dos programas de transferência de renda:

- Temos portas de saída desde antes do Bolsa Família: apoio ao microcrédito, cursos, treinamento. Nada contra que se turbine, se enfatize isso. Gastamos tanto dinheiro com os ricos! É bom gastar mais com os pobres. Mas não podemos ter expectativas irrealistas. Muitos dos beneficiados pelo Bolsa Família não têm rede social, não tem capital humano e nem capital cultural. Não acredito que um cursinho faça tanta diferença, embora admita que a medida é boa e se deva investir em capacitação - disse Sergei, enfatizando que, para ele, o que reduziu a pobreza extrema no Brasil foi o benefício.

Em nota divulgada no final do dia, o MDS explicou que o novo plano gesto terá metas anuais: "A ideia é adotar o modelo de gestão do PAC, com definição de ações e metas até 2014, e também com metas anuais, sistema de monitoramento, prestação de contas e a participação de estados e municípios".