Título: A maior inflação em seis anos
Autor: Batista , Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 08/01/2011, Economia, p. 23

Oreço dos alimentos e dos serviços puxaram o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para cima e o indicador oficial da inflação fechou 2010 em 5,91%. Este percentual, praticamente idêntico ao de 2008 (5,90%), é o maior desde 2004 e superior ao centro da meta do governo, de 4,5%. Mesmo assim, 2010 termina como sétimo ano seguido em que o IPCA fica dentro da meta, considerando o intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

O vilão de 2010 foram os alimentos, que subiram 10,39%, três vezes mais que a variação do grupo em 2009, de 3,18%. Somente a carne, que no ano subiu 29,54%, contribui para o IPCA com 0,64 ponto percentual. O feijão-carioca (mulatinho) registrou alta de mais de 60%. Outros produtos comuns na mesa dos brasileiros, como farinha de mandioca, leite, açúcar e frango, registraram altas de mais de 14%:

- O arroz compensou o feijão e levou a inflação para baixo, com variação de apenas 1,07% no ano passado - disse Eulina Nunes, coordenadora do sistema de índices de preços do IBGE. - Nos últimos três anos, o comportamento do IPCA seguiu o comportamento da evolução dos preços do grupo alimentos.

Dos nove grandes grupos que compõem o IPCA, apenas três ficaram com variação abaixo da meta oficial do governo, de 4,50%: Comunicação (0,88%), Transportes (2,41%) e Artigos para Residência (3,53%).

O resultado do IPCA do ano veio em linha com as projeções do mercado que, segundo levantamento feito no dia 30 de dezembro pelo Banco Central, previa IPCA de 5,90% em 2010. Em dezembro, a inflação subiu 0,63%, teto das expectativas dos analistas, mas abaixo do 0,83% registrado em novembro. O resultado reforça o argumento dos que defendem um aumento na taxa básica de juros, a Selic, a partir de janeiro, para controlar a inflação. Em média, os analistas preveem uma alta de meio ponto percentual na Selic, dos atuais 10,75% ao ano para 11,25%.

- Os dados comprovam uma elevação de serviços e alimentos, o que demonstra que a alta dos juros é necessária. Isso, contudo, pode atrair ainda mais dólares ao Brasil, que remunerará melhor aplicações financeiras, o que deverá reforçar a valorização do real, o que prejudica as exportações. O governo está em uma encruzilhada - afirmou Elson Teles, economista-chefe da Máxima Corretora.

Para os mais pobres, índice maior: 6,47%

O IBGE também divulgou a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a inflação para famílias com renda de até seis salários mínimos. No acumulado de 2010, o índice registrou alta de 6,47%, acima do IPCA, que tem como referência famílias com renda de até 40 salários mínimos, porque os alimentos têm peso maior para a baixa renda. O dado indica que, apenas para repor a inflação, o salário mínimo de 2011 deveria ser de R$543, R$3 a mais que o oferecido pelo governo. Se o valor de R$540 for mantido, terá sido a única vez no governo Lula que o reajuste do salário mínimo perderá da inflação.

O resultado do IPCA não surpreendeu o Ministério da Fazenda.

- A inflação já estava acima do centro da meta em novembro e fechou o ano assim. A banda existe justamente para isso, para acomodar - disse um integrante da equipe econômica.

Para 2011, o governo conta com uma política fiscal mais austera e com a redução da atividade econômica para manter a inflação sob controle, mas continuará analisando a situação climática e os preços dos alimentos.

No acumulado do governo Lula, a inflação oficial acumulou alta de 56,67%. No governo FH, o acumulado foi de 100,63%.