Título: Retomada do crescimento nos EUA preocupa BC e Ministério da Fazenda
Autor: Duarte, Patrícia ; Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 05/01/2011, Economia, p. 19

Leitura é que, num primeiro momento, isso levará a nova queda do dólar

BRASÍLIA. Os sinais consistentes de recuperação da economia americana são a nova frente de temor da equipe econômica brasileira em relação ao câmbio. O Banco Central (BC) e o Ministério da Fazenda avaliam que o ânimo provocado pela retomada dos EUA reduzirá a aversão ao risco dos investidores, reforçando a busca por mercados emergentes, que rendem elevado retorno sobre as aplicações, e a apreciação cambial.

A desvalorização do dólar frente ao real é alimentada exatamente pelo fluxo excessivo de recursos estrangeiros para o mercado nacional. Eles desembarcam no Brasil atrás dos juros altos - a taxa básica Selic está fixada em 10,75% ao ano - mas também pela boa perspectiva econômica do país. Isso significa, por exemplo, que empresas terão lucros altos e surgirão investimentos rentáveis em fundos que vão financiar obras da Copa do Mundo e das Olimpíadas e a extração do pré-sal.

Aversão a risco aumentaria investimentos no Brasil

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que a recente queda do dólar já se deve, em parte, à recuperação da economia dos EUA:

- Houve uma desvalorização do dólar nas duas últimas semanas. Isso merece a nossa atenção porque, nesse patamar, ele prejudica as nossas exportações. Como a economia americana está se recuperando, num primeiro momento, cai a aversão ao risco e os investidores ficam mais corajosos, buscando outros mercados que estão sólidos.

Segundo ele, num segundo momento, o governo americano deve voltar a subir um pouco os juros. A partir daí, muitos aplicadores retornarão aos Estados Unidos e isso reduzirá o fluxo de capital para outros mercados, retirando a pressão sobre o real:

- Mas até lá, o movimento do dólar é de desvalorização.

Essa situação poderia durar até os americanos começarem a retirar as medidas de incentivo à atividade econômica adotadas no auge da crise e a mudar sua política monetária, por exemplo, com elevações nos juros, hoje próximos de zero. Somente a partir desse segundo momento é que os fluxos poderiam se inverter, rumando com mais força aos títulos americanos e assim reduzindo a pressão de valorização do real.