Título: FMI e analistas aprovam medida, que deve deter manipulação no câmbio
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 07/01/2011, Economia, p. 25

Especialistas alertam que dólar deve continuar caindo. Novas ações seriam necessárias

RIO, SÃO PAULO e WASHINGTON. As medidas anunciadas ontem pelo Banco Central (BC) foram aprovadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e por analistas. O FMI considerou que a criação de um compulsório sobre a posição vendida dos bancos em dólar é um passo prudente. No mercado financeiro brasileiro, economistas avaliaram que a medida vai reduzir a arbitragem no mercado futuro de dólar (quando investidores ganham com a diferença entre a taxa futura e a cotação à vista da moeda americana) e fechar brechas para a manipulação no câmbio. Embora alguns alertem que a medida não deve mudar a tendência de apreciação do real, o que pode levar o governo a lançar mão de mais medidas no mercado de câmbio.

- Nós vemos tais medidas como medidas macroprudenciais que visam a fortalecer o sistema bancário no Brasil diante de grandes ingressos de capital, e elas podem ser uma parte apropriada do kit de ferramentas - disse Caroline Atkinson, porta-voz do Fundo.

Para o FMI, a aprovação de controles de capital é uma mudança em relação a sua posição no passado. Anteontem, o Fundo anunciou que planeja desenvolver guias orientando o uso benéfico desse tipo de controle.

Economista vê dólar a R$1,85 em quatro meses

Para o economista-chefe da Prosper Corretora, Eduardo Velho, a decisão do BC foi um movimento de antecipação, diante de novas pressões para a valorização do real que são esperadas nos próximos meses:

- Teremos uma política monetária mais agressiva, com juros mais altos. Há uma perspectiva de maior fluxo de estrangeiros na Bolsa, novas aberturas de capital e devem aumentar as captações de empresas brasileiras lá fora.

Na avaliação de Velho, o BC vai monitorar o impacto das medidas e ainda pode usar "um mix de instrumentos" para evitar a valorização do real.

- Outros países, como o Chile e a Tailândia, estão agindo para conter a alta de suas moedas. Se o Brasil não fizer, vai perder competitividade - disse.

O economista Sidnei Nehme, da NGO Corretora, vê na medida uma sinalização de mudança de estratégia do governo. E ao fechar uma das brechas usadas para as recentes apreciações do real, diz ele, a medida terá efeito sobre os negócios no câmbio e deverá levar o dólar a R$1,85 em, no máximo, 120 dias.

- É uma mudança de paradigma na política econômica. Tirando a manipulação com a posição vendida do câmbio, o dólar, naturalmente, terá um preço mais justo e de acordo com as condições brasileiras.

Nehme vê no atual governo disposição para atacar as causas da queda do dólar, e não apenas as consequências como na administração anterior, em que os gastos públicos cresceram fortemente e o crédito se expandiu a um ritmo que favoreceu o avanço da inflação, principal causa dos juros altos que estimulam as operações de arbitragem.

- Ao que parece, o propósito hoje é cortar gastos e desaquecer o consumo interno. E isso nada mais é do que um aceno de que o dólar não será mais instrumento de controle de inflação - disse.

"Se ficar só nisso não resolve o problema", diz economista

Para Roberto Padovani, estrategista de investimentos do Banco WestLB, contudo, o mercado não está convencido de que as medidas anunciadas ontem vão frear a apreciação do real.

- Aumento de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e compulsório têm efeitos limitados - afirmou.

A economista-chefe da ICAP Corretora, Inês Filipa, disse que o BC tomou uma atitude correta, mas também não acredita que a medida vá mudar a tendência de valorização do real para 2011. Paulo Oliveira, diretor geral da Brain, avalia que a medida do BC é eficaz, mas só a curto prazo:

- Tirar dos bancos a posição vendida tem efeito rápido, mas se ficar só nisso não resolve o problema.

(*) Com agências internacionais