Título: As teles vão ter que apostar em massificar e ganhar menos
Autor: Barbosa, Flávia; Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 07/01/2011, Economia, p. 29

Ministro diz que problemas nos Correios serão resolvidos ainda este ano

Até uma semana atrás ministro do Planejamento, Paulo Bernardo está à vontade no comando do Ministério das Comunicações. Tuiteiro assumido, diz-se encantado com a exposição da nova pasta e com a imensa quantidade de sugestões que recebe na rede social para tocar o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL).

O ministro avisa que as teles terão que abrir o bolso e investir na massificação da internet, em vez de ganhar vendendo conexão cara e lenta a poucos brasileiros, ou não receberão benefícios como redução de impostos. E adiantou que será o presidente do Conselho de Administração dos Correios.

O senhor assumiu o Ministério das Comunicações com uma grande missão, que é implementar o Plano Nacional de Banda Larga. A Telebrás já saiu do papel. O que vai ser proposto às operadoras de telefonia para que elas se engajem no projeto?

PAULO BERNARDO: Vamos ver como as empresas podem ajudar neste esforço de popularizar, difundir e dar acesso maciçamente à internet. A presidente Dilma me pediu, inclusive, para olhar isto com carinho. Na semana que vem vou começar a fazer reuniões com provedores regionais, talvez fazer as primeiras consultas com as empresas de telecomunicações. Vamos começar a andar. Tem outros setores querendo conversar, radiodifusão, rádios comunitárias... Temos uns 80 pedidos.

O orçamento da Telebrás tem só R$600 milhões e, para a tarifa de R$30 ou R$35 no PNBL, serão necessárias desonerações, num ano em que o governo promete ajuste fiscal. Como vai tornar o plano uma prioridade?

BERNARDO: Vamos trabalhar com o orçamento que nós tivermos. Nós vamos negociar com o ministro Guido Mantega (Fazenda) e o Planejamento. Já fizemos contato, do fim de dezembro para cá, com cinco governadores que disseram que têm disposição de abrir mão (do ICMS sobre banda larga). Mas eu tenho uma visão de que nós não devemos abrir mão de nada a priori. Nós vamos desonerar - e vem cá, vocês (teles) vão dar o que em troca? As teles vão ter que apostar em massificar em larga escala e ganhar menos, ganhar na escala, no número de pessoas. E para isto vão ter que investir muito em infraestrutura.

O que o senhor acha que as teles têm que dar em troca?

BERNARDO. Talvez eu esteja pegando muito pesado, mas as empresas fazem um discurso que parece que o problema é só imposto. Mas se você pegar uma banda larga que custe R$120 e tirar os impostos, vai ficar uns R$80, R$90, então não dá para vir com esta conversa. Já temos sinais de que as empresas podem concordar em jogar mais para baixo, e têm que diminuir as margens. Hoje o que eu estou vendo é o seguinte: o setor aposta em oferecer o serviço para poucos e com um preço alto.

Ou seja: o governo só dará benefícios se receber contrapartida?

BERNARDO: É igualzinho a uma negociação com sindicato de trabalhadores: se você falou que a sua proposta é 100, não adianta depois querer falar que só pode dar 99.

Se a banda larga, como o senhor diz, é um projeto apaixonante, a recuperação dos Correios seria a sua coroa de espinhos no ministério?

BERNARDO: Você sabe que eu acho os Correios mais fácil? Eu tenho segurança de que os Correios no segundo semestre vão estar com a situação controlada, resolvida. A empresa vai deslanchar a partir daí.

Mas houve suspeitas de corrupção, problemas com contratos. Será feita alguma alguma grande devassa na empresa?

BERNARDO: Os Correios têm auditoria e vão reforçá-la. Mas não é para ficar fazendo devassa, é para fazer funcionar a máquina. Conversei com uma equipe do Tribunal de Contas da União que fiscaliza os Correios pessoalmente, e eles têm diversos relatórios de auditoria operacional. Conversamos com membros do Ministério Público que fiscalizam os Correios sobre concurso, franquias, licitações. Há problemas ali, mas também não dá para achar que está uma catástrofe. Queremos conversar com o MP, e o que tiver errado queremos resolver. Vamos fazer um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) e vamos dar um prazo. Com este tipo de postura, você põe a empresa nos trilhos rapidamente.

O problema dos Correios era falta de autoridade?

BERNARDO: Não gostaria de colocar assim, mas com certeza tivemos um período em que a diretoria sequer conversava regularmente e buscava trabalhar coesa como equipe. Claro que isto afeta o rendimento da empresa.